Resenha | Shockrockets: Esquentando os Motores
Originado na obra de Kurt Busiek, Shockrockets: Esquentando os Motores se localiza num cenário pós-guerra espacial, em um momento político catastrófico, quando um general despótico comanda os rumos dos territórios entre o México e Estados Unidos. O protagonismo cabe ao latino Alejandro Cruz, um sujeito que se vira como pode, com sua autocicleta, um veículo munido da tecnologia alien para se locomover e levar sua vida em tempos de crise e racionamento de comida.
A dobradinha com Stuart Immonem – com quem fez uma dupla formidável em Superman: Identidade Secreta – ajuda a fortalecer o nível de qualidade alto da publicação, assim como estabelece um viés de contestação semelhante às outras parcerias dos dois. Cruz vive com sua família, diferente de tantos outros órfãos nesse mundo pós-calamidade, mas em si há um descontentamento que o faz recusar o trabalho terrível de buscar algas no fundo do mar, conceito que alude a indignidade e futilidade do trabalho comum e a vontade de fazer a diferença no ambiente usual.
Apesar de tratar de um personagem de minorias, o cunho das aventuras é escapista ao misturar a utopia de união mundial, já referenciada em Jornada nas Estrelas, de Gene Ronddenberry, com o espírito massavéio das produções japonesas que colocavam, em contraponto, máquinas poderosas e monstros gigantes. As camadas superficiais e mais profundas são exploradas de uma forma fluida neste começo.
A mistura de influências visuais de Capitão Sky e O Mundo do Amanhã e Rocketeer funciona ao juntarem-se com os elementos kubrickianos de Doutor Fantástico, resgatando para os quadrinhos parte dos elementos escapistas dos três filmes citados, servindo como uma rede de confluência curiosa e rica em detalhes temáticos.
O modo de contar a história faz o leitor perder um pouco do interesse no sub-texto, em especial por causa do ritmo, que varia entre momentos estáticos narrativamente e ações desenfreadas. Sensação compartilhada em Shockrockets mescla escapismo e representatividade, sem deixar de lado a diversão, ainda que esteja longe de ser um produto de qualidade indiscutível.
O desfecho mistura uma sequência de urgência enorme, que traz de volta a adrenalina perdida no decorrer da publicação, com um cliffhanger que determinaria um viés revolucionário, mas que não teve prosseguimento nem por parte dos autores, nem da Image Comics, infelizmente – ao menos para os amantes da arte de Busiek e Immonem.
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