Crítica | Fora do Rumo
Confesso aqui que há bastante tempo não assistia um filme de Jackie Chan. Confesso também, que durante o fim da década de 90 e o início dos anos 2000 eu assisti praticamente tudo que o ator chinês lançou. Teve muita coisa boa, mas teve uma parcela maior de filmes ruins. Chan acabou se prendendo em uma fórmula que foi gradativamente se esgotando e fazendo com que seus filmes fossem perdendo a relevância. Mesmo as incursões no cinema americano, quando o ator fugia um pouco da sua zona de conforto, foram rendendo somente filmes indignos ao carisma e ao empenho do ator recentemente oscarizado pelo conjunto de sua obra.
Nesse Fora do Rumo, Chan interpreta Bennie Chan, um detetive que vê seu parceiro amarrado em uma bomba-relógio cometer suicídio para salvá-lo. Nove anos depois, Bennie continua com a lembrança viva do seu grande amigo, uma vez que se desdobra para cuidar da filha dele (interpretada por Li Bingbing) e para finalmente conseguir incriminar Victor Wong, o político mafioso que ninguém acredita ser um criminoso. Porém, quando a filha de seu parceiro se envolve com a máfia de Wong, Bennie precisa encontrar o vigarista Connor Watts (Johnny Knoxville, de Jackass) e levá-lo de volta para Hong Kong. Só que Watts não é um simples golpista falastrão: ele tem informações que podem colocar o político corrupto na cadeia.
Dirigida por Renny Harlin (diretor de Risco Total e Duro de Matar 2), essa co-produção chinesa/americana/de Hong Kong infelizmente é mais um esquecível veículo para as peripécias de Jackie Chan. O filme é predominantemente um road-movie, mas a frouxa direção do sueco Harlin faz com que a jornada seja um tanto desagradável. Há que se ressaltar também, que há pouquíssima química entre os dois personagens centrais. Um ponto positivo do filme é a coreografia das lutas. Os 62 anos de idade e muitos ossos quebrados estão pesando contra Jackie. Sendo assim, as lutas foram coreografadas de modo a serem mais cruas e menos acrobáticas, o que representa uma quebra no padrão da filmografia do astro chinês. Existe uma ou outra sequência de ação um pouco mais interessante, mas no geral, nada que empolgue o espectador. Outro problema, é que por vezes o filme dá a impressão de ser um grande vídeo institucional de exaltação à China.
Chan interpreta um policial íntegro, gentil, bem educado, praticamente assexuado e bonachão, ou seja, o mesmo papel de sempre, porém aparenta cansaço durante boa parte do filme. Johnny Knoxville distancia-se da persona divertida dos tempos de Jackass e aproxima-se muito de um histriônico homem de meia idade chato. Há alguns problemas desagradáveis nos diálogos escritos para os dois protagonistas, pois há uma ausência grave de timing cômico. Fan Bingbing, que interpreta a afilhada do protagonista, não acrescenta muito, pois sua personagem também é de uma construção bem pobre. Winston Chao, intérprete do vilão Victor Wong, até que entrega um bom vilão clichê, uma vez que o interpreta com uma cara de pau que chega a remeter a alguns políticos brasileiros.
Em resumo, Fora de Rumo é um filme bem ruim que não faz jus à grandeza de seu grande astro e que ainda possui a nota triste do falecimento de seu diretor de fotografia após o acidente com o barco que o levava junto com a sua equipe. Tanto Chan quanto o falecido diretor de fotografia Chan-Kwok Hung (que morreu durante as filmagens deste longa) mereciam mais.