Crítica | Mal Nosso
Filmes de gênero no Brasil normalmente são relegados ao ostracismo pelo publico, que preferem as sessões pipoca estrangeiras, e pela crítica, que normalmente é ranzinza. No entanto, uma boa cena de terror tem surgido e é nesse contexto que Mal Nosso tenta embarcar, mostrando uma historia de começo bem tímido, com o personagem Arthur, de Ademir Esteves, ele é um homem solitário e silencioso, quase tétrico, e que precisa de um serviço estranho.
O filme de Samuel Galli começa com uma musica instrumental que remete ao mistério, e que casa muito bem com o ambiente ermo da fazenda. O gosto de Arthur é estranho, ele entra na deep web atrás de videos de assassinato, e logo está em um chat com um estranho sujeito. Os videos são bem violentos, cenas bem feitas, e que destoam um pouco do momento em que o filme larga um pouco de lado a face lisérgica.
Metódico, assim como o sujeito que contrata, Arthur vai a um lugar público, uma boate, onde encontra Charles (Ricardo Caselle), o assassino de aluguel que protagoniza os videos mostrados anteriormente. O grave problema é que no primeiro diálogo se nota uma falta de naturalidade enorme, seja nas atuações ou nos diálogos, e o método escolhido para tentar esconder essa construção dramática mambembe, o que é uma pena, pois o filme claramente tinha um potencial, sobretudo por conta do apelo não verbal do começo do filme.
As cenas de assassinatos são boas, já as que preparam as personagens que serão vitimadas carecem de um texto mais maduro do roteiro de Galli, fato que faz o filme decrescer muito. Ele passa a melhorar (bastante) quando resgata o passado de Arthur, que nessa fase, é vivido por Fernando Cardoso, um jovem que na idade em que deveria curtir, começa a ter visões de pessoas mortas, putrefatas, dominadas pelo mal, e a direção de arte traz a luz algumas criaturas que são muito bem feitas. O uso de efeitos práticos é louvável, e Galli conduz isso muito bem na sua trama, o problema é realmente quando há diálogos, onde o filme se aproxima demais dos teatros de igrejas evangélicos.
As partes que mostram Arthur lidando com exorcismo são muito bem dirigidas, as criaturas sobrenaturais seguem muito bem feitas, assim como a atuação física das vitimas, com direito a muito sangue e escatologias. A questão maior é que o momento em que o filme mostra isso, já é tarde, e o espectador sente dificuldade em se importar mais com aquelas situações. Os destaques positivos da produção vão para a fotografia de Victor Molin, a direção de arte de Maysa Pettes e claro, os efeitos especiais em maquiagem de Rodrigo Aragão. Talvez se não se levasse tão a sério, Mal Nosso pudesse ser melhor apreciado, mas certamente há muitos pontos positivos na produção, que infelizmente esbarra em um texto pouco maduro e na dificuldade que os interpretes tem em fazer seus papéis, mesmo no final lúdico que apresente.
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