Crítica | Fora de Controle
Antes de estrelar grandes produções e de iniciar a carreira de diretor, Ben Affleck era reconhecido como um ator de comédias românticas e produções variadas de pouco impacto, exceto por seu trabalho nas comédias de Kevin Smith. Em 2002, o astro participou de dois filmes de sucesso, responsáveis por uma possível mudança em sua carreira, não fossem outros futuros filmes fadados ao fracasso.
Com direção de Robert Michell, cujo filme mais popular e bem-sucedido é o romance Um Lugar Chamado Notting Hill, Fora de Controle reúne Affleck ao lado de Samuel L. Jackson numa crônica sobre o caos urbano. Na trama situada em Nova York, Gavid Banek e Doyle Gibson se envolvem em um acidente de trânsito. Apressados para resolver compromissos inadiáveis, ambos saem prejudicados do local e, após tentativas de contato amigável, decidem se vingar um do outro.
O caso urbano e a urgência devido à falta de tempo se transformam na causa principal para as ações egoístas das personagens. O embate apresenta os dois lados após o acidente, demonstrando que cada um possui problemas de difícil solução que poderiam ser resolvidos de maneira mais fácil se um apoiasse o outro no momento da colisão, uma metáfora sobre a paciência e a observação diante de questões pontuais.
O choque não acontece apenas de maneira literal no acidente. Mas também promove uma representação de classes econômicas diferentes e, assim, um retrato sobre a sociedade: o advogado Banek, como profissional mesquinho e sem escrúpulos; enquanto Gibson tenta superar problemas alcoólicos do passado para manter a união familiar. São dois polos diferentes simbolizando uma vida mais material em contraposição ao fator humano. Nos papéis centrais, mesmo que não entreguem uma interpretação além do normal, Affleck e L. Jackson estabelecem bem esta diferenciação, bem como o stress devido ao caos diário.
O roteiro de Chap Taylor e Michael Tolkin (Impacto Profundo) mantém qualidade tanto na vertente dramática pela crítica aos tempos modernos quanto no humor ao criar situações em que, propositadamente, as personagens tentam se autodestruir. Em nenhum momento, o enredo faz de um personagem mocinho ou vilão, mas pontua que, diante da urbanização estressante, locais onde o tempo é uma forte moeda, momentos caóticos são naturais, sendo necessário bom senso para evitar conflitos.
Fora de Controle cria uma boa crônica sobre o caos cotidiano em um roteiro equilibrado cuja mensagem explícita sobre harmonia e maior compreensão entre seres é parte da mensagem final. Uma história natural e comum a tantos momentos vividos diariamente.