Crítica | Eles Existem
Dezesseis anos após modificar estruturas do Terror como uma narrativa de baixo orçamento filmada sob o ponto de vista de câmeras amadoras com supostos registros reais, Eduardo Sanchez, um dos diretores de A Bruxa de Blair, dá continuidade ao estilo que se transformou em narrativa padrão nos lançamentos do gênero.
Mantendo a estrutura de sua obra consagrada, Eles Existem retorna à atmosfera isolada de uma floresta e a qual explora o mito da folclórica personagem do Pé-Grande. O estilo explicitamente documental cede à tradicional narrativa com um grupo de adolescentes numa viagem paradisíaca em local distante. Devido à tendência pública de registrar excessivamente cada momento, é natural que uma viagem mereça registro, motivação que fundamente o registro. De qualquer maneira, o roteiro de Jamie Nash ainda se apoia em um personagem viciado em tecnologia para dar maior verossimilhança à multiplicidade de registros.
Recorrer à figura mitológica do Pé-Grande é uma interessante escolha que difere levemente da tendência em apresentar comunidades isoladas de humanos sádicos. A presença de uma figura lendária gera a descrença inicial nas personagens e alimenta a lenda em torno desta criatura, descrita como um grande macaco, mas dócil quando não confrontada.
Mesmo em um estilo repetido ao extremo após tantos anos, a direção de Sanchez demonstra habilidade em transformar cenas propositadamente mal filmadas – que podem incomodar parte do público – em argumento a favor da tensão. A parcialidade e a inferência de um suposto elemento agressivo são mais fortes do que a visão direta dos acontecimentos. Uma sugestão suficiente para gerar medo e incitar o espectador a se imaginar em situação semelhante. A trama pontua momentos de pânico com breves pausas antes de mais um ataque do Pé-Grande.
A parcialidade das cenas filmadas por integrantes é contraposta com aquelas sob o uso de câmeras noturnas. Nelas, o público normalmente observa um pouco mais além do que as personagens, antecipando o medo de algumas cenas. Um equilíbrio bem realizado pela edição, cuja qualidade alia-se ao fato de que não há nenhuma restrição em cenas diurnas, sempre mais difíceis de serem compostas em um filme de terror por conta da luminosidade constante que nada esconde.
O filme não apresenta nenhuma novidade além da repetição daquilo que foi apresentado anos atrás ao lado de seu parceiro. Porém, demonstra competência ao retomar recursos estabelecidos e ainda assim causar impacto, mesmo que seja um medo momentâneo durante a história. A imersão promovida pelas imagens filmadas em primeira pessoa ajuda a estabelecer a conexão de uma possível narrativa real que dialoga com o medo do desconhecido.