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  • Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários do Novo Teaser Trailer

    Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários do Novo Teaser Trailer

    A semana dos dias 20 a 25 de agosto foi cheio de surpresas para os fãs da cultura pop. Mais precisamente para os fãs da Disney, a realização da D23 deste ano de 2019, em Anaheim, deixará um marco na história da convenção. Englobando todas as empresas da gigante casa das ideias, a convenção praticamente marcou a estreia do ambicioso serviço de streaming da Disney, o Disney+, trazendo muitas novidades (muitas mesmo) do que estará por vir, principalmente quando se trata de produções da própria Disney, além da Marvel a, obviamente, da Lucasfilm.

    Sem dúvida, o momento mais aguardado era o painel de Star Wars: A Ascensão Skywalker, o nono e último capítulo da franquia. Se durante a Star Wars Celebration, realizada em maio, nos foi mostrado o primeiro teaser do filme, a esperança aqui era que o primeiro trailer completo fosse apresentado. Após a produtora e atual presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, e o diretor J. J. Abrams darem às boas vindas ao elenco do filme, o que os fãs viram foi um trailer que não tinha nome de trailer propriamente dito, mas sim um “material especial” para os fãs ali presentes. O material foi lançado oficialmente dois dias depois e deixou a internet atônita, como vem sendo feito em todos os trailers lançados desde O Despertar da Força.

    Embora tenhamos aproximadamente dois minutos e treze segundos de imagens, praticamente metade delas são de material inédito. No começo da fita vemos imagens marcantes de toda a história da saga da família Skywalker, desde A Ameaça Fantasma até Os Últimos Jedi. Importante destacar que o trailer respeita a ordem de lançamento dos filmes e não a ordem cronológica da história e novamente ouvimos a fala de Luke Skywalker (Mark Hamill) que diz “passamos adiante tudo que sabemos. Mil gerações vivem em você agora. Mas esta é a sua luta.”

    As imagens inéditas começam com Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac), Chewbacca (Joonas Suotamo) e C-3PO (Anthony Daniels), num planeta desértico observando uma cidade que parece estar comemorando algum tipo de carnaval. Os figurinos de Rey pouco mudaram desde o usado em O Despertar da Força, mas de Finn e Poe Dameron parecem muito bem trajados para uma aventura estilo Indiana Jones, principalmente Poe que parece que saiu direto do jogo Uncharted. Rapidamente temos a General Leia (Carrie Fischer), lembrando que esta é a última vez que a veremos a atriz em tela, sendo que sua participação foi feita por imagens descartadas dos outros filmes, já que infelizmente, Carrie Fisher nos deixou após terminar sua participação nas filmagens de Os Últimos Jedi.

    O trailer continua com uma bela imagem de diversas naves rebeldes pairando no ar pós velocidade da luz e vemos, também uma infinidade de cruzadores imperiais preparados para batalha. A quantidade é tão grande que chega a lembrar a armada de Agamenom, em Tróia. Observando os cruzadores, está Finn juntamente com Jannah, a nova personagem vivida por Naomi Ackie. Após vemos C-3PO com olhos vermelhos e um tipo de raio destruindo o que pode ser parte do planeta desértico do começo do trailer, para então vermos Rey praticando com o sabre de luz de Luke restaurado e Kylo Ren (Adam Driver) saindo furioso de sua nave, empunhando também sua arma. Vale destacar que as imagens não possuem nenhuma relação, porém vemos uma linda imagem dos dois duelando violentamente em cima de uma peça que provavelmente faz parte dos destroços da Estrela da Morte mostrada no primeiro teaser. Enquanto essas últimas cenas enchem os olhos dos espectadores, ouvimos a voz do Imperador Palpatine (Ian McDiamird) que diz “a sua jornada está próxima do fim”. A tela fica totalmente preta para logo então revelar uma maligna Rey, toda trajada de preto, empunhando um sabre de luz de lâmina dupla na cor vermelha, semelhante ao usado por Darth Maul.

    Obviamente, o destaque do trailer ficou por conta de Rey possivelmente flertando com o Lado Negro da Força e isso sugere o que pode ser parte da trama do novo filme, que poderá retratar a queda de Rey e a ascensão de Ben Skywalker, algo que será discutido no texto sobre as expectativas sobre o filme, dias antes do lançamento. Mas também, outras coisas chamaram bastante a atenção. A festa mencionada no início deste texto sugere que possa estar sendo realizada por Maz Kanata, já que o retorno de Lupita Nyong’o está confirmado. A quantidade de naves da Aliança Rebelde é significativa se levarmos em conta que a rebelião foi praticamente extinta no filme anterior. A imagem dos milhares de cruzadores imperiais no meio a uma tempestade de raios é incrível e pode se tratar somente de um desfile militar sob a liderança do General Hux (Domhnall Gleeson), que até agora não apareceu em uma imagem sequer. Os olhos vermelhos de C-3PO pode não ter siginificado algum, uma vez que o robô vem sofrendo trocas de peças constantemente e ele pode estar acordando justamente do procedimento em que seus olhos foram trocados após ser ferido em batalha.

    Aliás, vários personagens confirmados ainda não deram as suas caras. Luke Skywalker e Palpatine, provavelmente são aqueles que causam as maiores expectativas, além deles e de Maz Kanata, não vimos ainda Rose (Kelly Marie Tran) e a nova personagem vivida por Kerri Russel.

    Star Wars: A Ascensão Skywalker chega ao Brasil em 19 de dezembro de 2019.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Aladdin (1992)

    Crítica | Aladdin (1992)

    Tomando elementos do cultural oriental como base, seja a mitologia árabe ou contos chineses ancestrais, Aladdin, animação de 1992 comandada por John Musker e Ron Clements (que já haviam feito As Peripecias do Ratinho Detetive, A Pequena Sereia e mais tarde conduziriam Hercules) adapta um dos contos das 1001 Noites, ao menos um que não estava nos escritos originais, mostrando a historia de um pequeno ladrão nas ruas de Agrabah que é muito mais do que aparenta ser, um diamante bruto.

    Nesse clássico da famigerada renascença da Disney há alguns sinais narrativos bem curiosos, como o narrador/comerciante conversando diretamente com o publico, apelando para a historia do rapaz que dá título ao filme para manter a atenção do espectador. Pouco tempo depois, se revelou que o personagem era o mesmo gênio dublado por Robin Williams, lembrando que nos anos noventa tais informações tão básicas não eram tão presentes na internet, que aliás, engatinhava a essa época.

    Neste ponto se notam coisas incríveis, como um moralismo abstrato na Caverna dos Tesouros, além da  óbvia questão de que mesmo roubando para se alimentar, Aladdin não é considerado como impuro, mostrando que essa balança moral é bem dúbia. Os filmes do estúdio sabiam brincar com o nonsense e com os exageros, mas ainda assim, se nota uma sentença pesada para o personagem, de que ele morrerá ladrão pois assim nasceu, e essa talvez seja a maior diferença para a versão de Disney do mito. Outro fator diferencial é a carga de sensualidade implícita, que é aplacada claro pelo fato de ser uma animação, mas que é bem presente neste, o que faz com que a obra seja bastante ousada para os padrões cronológicos.

    Da parte dos outros personagens, há também pouco apego ao material literário original. Seu par romântico é uma linda garota rica que se vê pobre de aventuras mesmo com todas as regalias que tem por ser da realeza. Seu futuro sogro é um rei bonachão que é facilmente manipulado e seu opositor é um bruxo afetado, acompanhado de uma arara/papagaio que por sua vez, funciona até como motor de uma máquina que dá paradeiros de pessoas. Os animais do filme aliás são um caso à parte, pois são espertos, com um macaco indiano que (praticamente) fala, um tigre ciumento, além de uma arara/papagaio que não se limita só a falar, mas também a maquinar planos, roubos e ainda faz um sem número de piadas. A formula mistura humanos inteligentes e civilizados com figuras antropomórficas e claro, criaturas mágicas.

    O status quo é modificado após a saída da Caverna, onde Aladdin encontra um tapete mágico, que funciona como um animal de estimação, ou um pet. Aos 36 minutos, o co-protagonista finalmente aparece, o Gênio da Lâmpada, um ser azul de poderes cósmicos e fenomenais, mas que também é um sujeito louco que brinca com arquétipos de transformistas. A inventividade do personagem é demonstração suficiente de que ele é a frente do seu tempo, de que não é movido pelos preconceitos de época alguma. Curioso é que, apesar dos predicados positivos, ele ainda não é maduro, sendo até passivo agressivo quando seu amo o recusa. De fato, o Gênio é esperto e vê em Aladdin um alguém inteligente e altruísta, capaz de ludibriar o novo amigo mas também de abrir mão de sua vontade pelo bem de outro.

    Apesar de tudo positivo que cerca esta versão de Aladdin, ela obviamente não é perfeita, tem efeitos em 3d artificiais (em especial na saída da caverna), que se misturam com outros muito bons (quando chega a lava), então as partes não se mesclam bem. Ainda assim, seu humor é afiado, há uma forte mensagem de desconstrução da mentalidade da realeza, desdenhando da figura soberana de Agrabah, mostrando o sultão como um bobo alegre, além de conter um vilão que transborda carisma e que é o perfeito político corrupto e enganador. Por mais que seja um filme para crianças, há muitas camadas adultas na animação, além de um trabalho fenomenal não só com as animações, mas com a trilha, com músicas compostas por Alan Menken que marcaram sua época e que fizeram o longa entrar para a historia não só da Disney, mas da sétima arte como um todo, sendo um belo espécime dos filmes de contos de fadas mesmo sem o padrão eurocentrista em sua formula.

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  • O Que Esperar de Vingadores: Ultimato

    O Que Esperar de Vingadores: Ultimato

    Queridos amigos, no meu texto de expectativas sobre Vingadores: Guerra Infinita, fiz uma grande introdução enaltecendo a Marvel e todo seu vitorioso universo cinemático – UCM, criado há pouco mais de uma década. Quando falei sobre o filme em si, enalteci também a produção que se propôs a um dos maiores desafios a serem vistos na história do cinema, dada a complexidade que a produção enfrentaria, tanto no que diz respeito ao roteiro, quanto no que diz respeito à quantidade de personagens em tela, e na química que esses dois núcleos deveria ter para um grande resultado, que, de fato, foi acima do esperado, como podemos ver na crítica do filme.

    Quando se trata de Vingadores: Ultimato, podemos dizer que o desafio aumentou pelo sucesso que foi Guerra Infinita e também pelo seu impactante final, fazendo com que fãs do mundo todo ficassem atônitos, tentando descobrir como os Seis Originais, vividos por Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), juntamente com Máquina de Combate (Don Cheadle) e os Guardiões da Galáxia, Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Nebulosa (Karen Gillan) sairão dessa situação atribuída ao estalar de dedos de Thanos (Josh Brolin).

    Às vésperas da estreia do filme, vamos tentar entender um pouco sobre como será o enredo sendo que é provável que possamos estar errados, assim como certos. Vale destacar que estamos livres de todas as milhares de teorias e spoilers apresentados e vazados na internet nos últimos meses.

    Capitã Marvel e o resgate de Tony Stark e Nebulosa.

    Durante a cena pós-créditos de Capitã Marvel, podemos perceber que a heroína vivida por Brie Larson chega à Terra pouco tempo após o estalar de dedos de Thanos. Talvez algumas semanas depois, se levarmos em conta o tempo que os sobreviventes encontrarão o pager de Nick Fury. Assim, deve ser ela quem sairá numa side quest para resgatar Tony Stark e Nebulosa, que juntos, conseguirão sair do planeta Titã, mas ficarão à deriva no espaço.

    Além disso, a participação da Capitã Marvel no filme deve sofrer uma considerável diminuição. Embora ela possa ter muito tempo de tela, o fato de ela ser extremamente poderosa, pode prejudicar sua participação no filme. Todas as vezes que vimos Visão e Feiticeira Escarlate em algum filme, pudemos perceber que eles simplesmente desaparecem por serem fortes demais. Isso aconteceu em parte de Era de Ultron e em Guerra Civil. Conseguiram, de certa forma, ajustar isso em Guerra Infinita, quando um foi tirado do combate e o outro entrou para ajudar mais para o final, o que foi motivo de piada entre os personagens.

    O retorno de Clint Barton e Scott Lang.

    Na análise do segundo trailer do filme, podemos ver Clint Barton treinando sua filha com o arco e flecha. Importante lembrar que o personagem cumpre prisão domiciliar pelos fatos ocorridos em Guerra Civil. E é muito provável que o herói perca toda sua família com o estalar de dedos, o que faz com que ele acabe virando algum tipo de mercenário sob o nome de Ronin. Natasha Romanoff será a responsável por fazê-lo retornar e provavelmente, os Vingadores já teriam um plano para derrotar Thanos, o que obriga Barton a voltar para a equipe.

    Já com relação ao Homem-Formiga, Scott Lang, vivido por Paul Rudd, fica claro que o herói conseguirá escapar do Reino Quântico, porém, não se sabe em que momento isso vai acontecer e nem como. A julgar pelas imagens do trailer, é muito provável que o personagem só consiga retornar anos depois do acontecido, sendo que, ou ele ficará preso por anos no reino ou ele conseguirá sair pouco tempo depois, mas numa relatividade que possa ter passado anos na Terra.

    A relação de Bruce Banner com o Hulk

    Guerra Infinita foi praticamente um filme sem o Hulk. Após vermos o gigante esmeralda tão somente na primeira cena, onde Thanos o coloca literalmente para dormir, Bruce Banner passa a ter uma difícil relação com sua outra metade, já que o Hulk, de jeito nenhum, quer sair e ajudá-lo na batalha.

    Sem dúvida veremos ver mais dessa relação em Ultimato e o retorno praticamente certo do Hulk e de uma maneira que poderá ser surpresa pra muita gente, já que uma das teorias do filme é sobre como isso vai acontecer.

    Três horas de filme, três filmes em um

    Foi amplamente divulgado que a duração da fita será de pouco mais de três horas. Portanto, muito provável que os três atos sejam divididos em três pequenos filmes e que teremos pelo menos duas linhas temporais diferentes, podendo ter uma terceira ou até mais.

    Por enquanto, conforme as imagens oficiais, enxergamos duas dessas linhas, sendo uma delas o período seguinte ao estalar de dedos de Thanos e o anos que se passam após o drástico evento. Mas, uma das Joias do Infinito é a Joia do Tempo, certo?

    O retorno dos heróis mortos e mais mortes

    Infelizmente, não é possível esconder tudo, afinal a indústria do cinema não pode parar. Já temos trailer de Homem-Aranha: Longe de Casa, e produções confirmadas como as continuações de Pantera Negra e Doutor Estranho, além dos seriados para o serviço de streaming da Disney e que envolvem alguns dos heróis. Então, assim como nos quadrinhos, podem se preparar porque eles irão voltar. Mas isso não significa que alguns deles não poderão morrer novamente. Inclusive, quem ainda não morreu, poderá morrer.

    Muita emoção e um ritmo menos acelerado que Guerra Infinita

    O filme deverá ter várias cenas que causarão diversas emoções nos espectadores. Com as cabines de imprensa sendo realizadas, a Marvel permite que jornalistas e diversos influenciadores digitais dissertem em pouquíssimas linhas impressões sobre o filme e essas impressões são unânimes: muito choro e muito riso. Se prepare!

    É provável que o filme seja mais calmo que Guerra Infinita no que diz respeito ao ritmo. Em Guerra Infinita, tivemos vários fronts de batalha e diversos side quests espalhados pela galáxia e isso não deve ocorrer muito em Ultimato, que deverá sim ter várias cenas de ação, mas não do começo ao fim como foi seu antecessor.

    Cenas emblemáticas

    Pessoalmente, gostaria de ver a reedição de duas cenas já mostradas em filmes anteriores. A primeira seria a reedição de uma cena de Os Vingadores, onde os Seis Originais formam um círculo se preparando para batalha. Será que teremos a tão sonhada cena envolvendo todos os heróis lado a lado?

    Outra coisa que gostaria de ver é um momento como o dos heróis comendo num restaurante após a batalha de Nova Iorque do primeiro filme, ou como a festa realizada em Era de Ultron. Muito provável que esse momento tenha sido gravado no último dia de filmagens, com os atores se divertindo como se estivessem na famosa festa da firma.

    Agora é só aguardar a estreia do filme mais esperado de 2019.

    Vejo vocês no cinema.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | Dumbo (2019)

    Crítica | Dumbo (2019)

    Tim Burton há muito tempo não reprisa o bom cinema pelo qual ficou conhecido, e coube a Disney entregar-lhe um projeto que poderia faze-lo retomar a aura fantástica que começou a fazer em Edward Mãos de Tesoura, e o resultado final de Dumbo condiz demais com essa expectativa, conseguindo sabiamente fugir dos exageros que ele mesmo fez em Alice no País das Maravilhas, que foi uma das parcerias  mais recentes do diretor com o estúdio. O filme do elefantinho voador é emotivo, belo e transpira poesia.

    Evidentemente que liberdades  criativas precisaram ser tomadas, para tornar o clássico Dumbo de 1941 em um filme palatável não só para plateias mais novas, mas também para o novo formato, mas seja no roteiro de Ehren Kruger ou na direção de Burton há inúmeras referencias ao clássico, elementos como o trem que leva o circo dos Irmãos Medici ter um sorriso na frente, o uso das penas como combustível para o paquiderme (ainda que em uma espécie de Placebo), o uso de ratinhos amestrados para alegrar o filhote e os animais de espuma psicodélicos  estão lá, embora bem diferentes, e a repaginação deles é bem reverencial ao tom da versão antiga.

    No entanto a narrativa é mais feita pelos humanos e não pelos animais, e faz sentido, em especial por fortalecer um discurso de liberdade contra escravidão. Os dois plots principais funcionam muito bem juntos, tanto o dos animais que tem seus destinos decididos por humanos que são escrupulosos ou inescrupulosos de acordo com seu humor e necessidades básicas, há também os animais que apesar de lidar com o circo, tem personalidade própria, e é dada a atenção a ambos os núcleos, desenvolvendo mais obviamente a faceta que tem mais atores consagrados, ainda que eles tenham menos importância dramática que o animal “mágico” e as crianças que o cercam.

    Para muitos críticos da carreira de Burton é composta só de maneirismos, esse poderia soar como um filme seu sem parte de suas marcas, mas  isso não é verdade. O cineasta abre mão de um visual mais barroco, mas mantém parcerias com boa parte do seu elenco, como Danny DeVito (que repagina um personagem seu de Peixe Grande), Eva Green, Michael Keaton e Cia, além de ter consigo Danny Elfman fazendo uma das trilhas mais inspiradas de sua carreira, que dão o tom hiper fantástico necessária para todas as plateias embarcarem. É fato que o diretor está em uma coleira, e é bom que esteja, para não cometer os exageros que fez em Olhos Grandes ou O Lar das Crianças Peculiares, que não são seus piores filmes, mas ainda assim causam uma estranheza em quem gosta de sua obra anterior.

    Outra assunto que o realizador normalmente aborda e que é revisitado aqui são os problemas familiares, aqui representados pelo lado materno do parentesco, seja com a dupla de protagonistas infantis, Nico Parker e Finley Hobbins, que fazem respectivamente Milly e Joe Farrier, os órfãos filhos de Colin Farrell, que faz Holt, um veterano de guerra que adestrava equinos, além obviamente de Dumbo, que vê a Senhora Jumbo ser afastada de si por ser considerada louca. Em comum entre os dois plots, há a sensação de não pertencimento aquele lugar, ao circo dos Médici, não por falta de carinho dos que ali habitam, mas simplesmente porque eles não se encaixam ali apesar de serem formidáveis, mas tanto a jovem Milly não é circense, e sim uma cientista que quer dar vazão aos seus desejos, como os elefantes não se sentem bem no cativeiro.

    Ao menos em um ponto o filme não se diferencia muito da média, pois depende demais das coincidências para ter as reuniões de personagens que precisa. Elas soam irritantes de tão convenientes que são, mas nada que torne vã toda a jornada Dumbo, dos Holt e até do Circo Medici, que finalmente muda seu nome no final para algo mais justo. Cada um dos núcleos de desajustados, a sua maneira, alcançam o seu apogeu e seu modo mais justo de brilhar junto as luzes da ribalta, mesmo a menina que quer ser cientista atende seus próprios desejos de uma maneira que por hora, lhe serve. Ao final de Dumbo, não é só o pequeno elefante que consegue  alçar voo como uma borboleta, mas todos os  que foram agraciados pela sua convivência, e mesmo que não faça muito sentido o final adocicado da obra de Burton, ela condiz demais com a fantasia presente nos clássicos animados de Walt Disney nos anos quarenta e cinqüenta, e é uma versão ainda mais poetizada da obra de 1941.

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  • Crítica | Dumbo (1941)

    Crítica | Dumbo (1941)

    No antigo VHS de Dumbo há um dizer que hoje soa engraçado, afirmando que aquela é uma pequena obra prima, e de fato, o filme de Ben Sharpstein é exatamente isso. Lançado de maneira despretensiosa, para ocupar o espaço entre o clássico Fantasia e o muito rentável Bambi – cujo custo beneficio foi absurdo, orçado em 858 mil dólares rendendo mais de 260 mil – a historia do elefantinho de circo com orelhas grandes é encantadora desde seu começo, em uma noite chuvosa, em que cegonhas sobrevoam a Florida, e jogam cestos com filhotes e paraquedas que caem sobre o circo.

    O início mágico não é à toa, cada um dos filhotinhos parecem se encaixar perfeitamente em seus grupos familiares, e somente uma mãe fica insatisfeita, a elefanta. No caminho que o circo faz até sua próxima locação, de trem, finalmente chega a encomenda, um belo filhote de elefante, super afável com uma leve deficiência, que são suas orelhas grandes. É curioso como isso só aparece quando o roteiro julga conveniente, já que num primeiro momento, as elefantas o acham fofo, não demorando a praticar a segregação com o filhote.

    O circo é quase uma entidade, assim como os outros objetos inanimados. A locomotiva a vapor que transporta homens e animais tem vida própria, e na música que os funcionários cantam, há uma reclamação, de que eles trabalham sem saber se irão receber ou não pelo seu esforço. Quase todos os homens que praticam tal esforço são negros, e possivelmente a ideia do roteiro de Joe Grant e Dick Huemer remete a escravidão, abolida nos Estados Unidos em 1863, 78 anos antes do filme. Fato é que alguns animais ajudam a armar as tendas, em dos muitos paralelos que o filme de Sharpsteen faz com a escravidão e trabalho forçado.

    Apesar de ser um filme infantil e de comédia, há tons bastante dramáticos ao longo dos 63 minutos de duração, como quando a Senhora Jumbo tenta proteger o seu filhote de um menino humano que se excede, e tenta ferir Dumbo. O paquiderme é isolado, basicamente porque reagiu ao seu instinto materno, fato que não deveria ser condenável, obviamente. Não é estabelecida qualquer relação minima de camaradagem entre o dono do circo, adestradores ou qualquer humano e os animais, por mais que o mote do filme não seja exatamente esse problema, mas a megalomania do chefe do picadeiro faz ferir quase todos os elefantes, além de causar a separação do protagonista de sua mãe.

    Dumbo é maltratado pelos seus iguais, e o quadro piora muito depois do numero que teria ele como centro das atenções. O herói é tratado como um pária pelos seus, e só encontra bondade no ratinho Timóteo (Thimoty Q. no original), um personagem que conversa com ele e faz um papel semelhante ao do Grilo Falante no filme do Pinóquio, ainda que não seja exatamente a consciência do elefantinho. Ele é basicamente o único simpático ao personagem-título, o mesmo que tenta reunir filho e mãe, aproximando Dumbo da jaula da senhora Jumbo, onde as trombas dos dois se tocam, em um dos momentos mais singelos do filme.

    Após muita rejeição impensada, piorada pela questão de tentativas de integração em números circenses se mostrarem nulas, Dumbo é tornado um palhaço, uma classe considerada mais baixa na hierarquia do circo. Além disso, o juramento feito pelas senhoras demarca outra situação, de segregação de uma criança ainda, que é separada de sua mãe e é obrigada a trabalhar sem apoio algum daqueles que deveriam ser o seu povo e seus protetores.

    Apesar da formula bem simples, o filme ousa em alguns pontos, como quando o filhote tem as visões psicodélicas, fruto do gole que ele e Timóteo deram na água contaminada por champanhe, cujos efeitos são bem diferente do tipico torpor do álcool, mais parecidos com os efeitos de drogas sintéticas. Fazer alusões como essas, em um filme infantil de 1941 é realmente algo corajoso, e a sequência é muito bonita visualmente, com um equilíbrio belo das imagens bem desenhadas com tonalidades bem gritantes , em uma sequência bem doida.

    Dumbo consegue quebrar os paradigmas que seu enorme tamanho impõem a si, e consegue transformar um defeito em uma virtude, e por mais que não se livre das amarras que lhe são impostas pelo circo, ele ainda age feito um avião, mesmo sem o placebo da tal pena mágica que Timóteo e os corvos lhe arranjam. Sua performance é apoteótica, e o animal triunfa, tendo direito a privilégios que antes não tinha, como um vagão só para si e para sua mãe, alem de cantos de quem antes o tratava mal. Dumbo soa mágico, em especial em seu final, mas esconde um teor de tristeza e dramaticidade normalmente subestimados por parte do público, semelhante ao filme posterior de Walt Disney, Bambi, embora seja menos explícito no quesito de explorar a tristeza, escondendo ela atrás de uma figura mitológica e gigantesca que consegue planar pelo ar facilmente, com aerodinâmica tipica de um boeing. Os sessenta e quatro minutos de filme parecem até mais extensos, diante da mágica história apresentada e apesar de ser uma obra simples e sucinta levanta questionamentos a respeito de preconceito e intolerância de maneira bem palatável e não didática, em um função muito nobre por conseguir transmitir tais mensagens para uma plateia mais novas.

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  • Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Não é de agora que  a Disney resolveu fazer remakes ou releituras de suas obras clássicas com atores reais. Nos anos 90, tivemos 101 Dálmatas e um filme obscuro de O Livro da Selva, do qual ninguém se lembra (nem a Disney faz questão). Mas desde o lançamento de Malévola, o estúdio do camundongo tem se empenhado para trazer versões realistas de seus personagens, seja na forma de uma refilmagem quase quadro a quadro (como A Bela e a Fera), seja em reinterpretações (como Alice Através do Espelho). Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível entra nessa segunda categoria. O filme do diretor Marc Foster não é sobre as aventuras do Ursinho Pooh e sua turma no Bosque dos Cem Acres, tampouco uma cinebiografia do verdadeiro Christopher Robin (filho do autor A. A. Miles, criador dos personagens). O que vemos na tela é uma história sobre amadurecimento e as preocupações da vida adulta do personagem-título, forçado a deixar sua infância cedo demais e incapaz de enxergar um mundo mais feliz ao seu redor, em consequência de seus traumas e contexto histórico das grandes guerras do início do século XX.

    No início somos apresentados ao “Menino Cristóvão” (ou “Paulo Roberto”, em dublagens mais antigas) que já conhecemos de produções anteriores da Disney. Christopher Robin (Ewan McGregor, na versão adulta) vive feliz em suas brincadeiras com seus bichinhos de pelúcia nos arredores do condado de Sussex, Inglaterra, quando precisa se despedir dos brinquedos para estudar em um colégio interno. O clima de melancolia já começa a se desdobrar a partir de então, quando acompanhamos o crescimento do garoto e sua difícil vida que segue, com a perda do pai e os horrores da guerra. Os primeiros 12 minutos do longa já nos mostra que o garoto imaginativo de então não seria mais o mesmo ao encarar a dura realidade da vida.

    Já como adulto, as preocupações com o trabalho o afastam de sua vida familiar. A relação com sua esposa e filha (que nasceu enquanto ele estava na guerra) é bastante fria, e ao deixar de passar um fim de semana na casa de campo com elas para resolver problemas do trabalho, seu antigo urso de pelúcia surge para lembrá-lo de uma vida mais amena e feliz. Não existe nenhuma explicação para o fato de Pooh ser um ursinho de pelúcia falante, ou de como se chega ao mundo bucólico do Bosque dos Cem Acres, e isso não é um defeito do filme. Pooh apenas aparece, e isso faz com que Christopher reviva momentos de sua infância com Leitão, Tigrão, Coelho, Ió, Corujão, Dona Can e Guru, reencontrando a criança perdida dentro de si e criando novos laços com sua esposa e filha mais tarde.

    A produção acerta em cheio em basear o design dos personagens do Bosque dos Cem Acres em bichos de pelúcia reais, e a fotografia transmite os sentimentos necessários durantes diferentes partes do longa, sendo mais sombria em momentos tensos e colorida nas cenas alegres. A imersão do espectador e o sentimento de nostalgia se torna ainda maior ao ouvir a trilha baseada no tema original, tocada ao piano em diferentes momentos do filme. Embora existam alguns escorregões na trama (em certos momentos, as atitudes de Christopher servem apenas para dar prosseguimento ao roteiro), temos uma história que fala muito mais para os adultos do que para as crianças, nos lembrando de que o que mais importa na vida são as coisas simples. Sim, é uma “moral da história” bastante clichê, mas que funciona dentro da proposta do longa.

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  • Resenha | Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” – Biblioteca Don Rosa

    Resenha | Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” – Biblioteca Don Rosa

    O segundo volume da série Biblioteca Don Rosa, Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” é um dos livros mais interessantes publicados pela recém-extinta divisão de quadrinhos Disney da Editora Abril. Nele, vemos uma época da carreira de Keno Don Rosa em que embora ele estivesse mais confortável com os personagens, histórias e arte, também precisou passar por questões editoriais alheias à sua vontade. As histórias desse volume datam de outubro de 1988 até junho de 1990, e foram publicadas por editoras diferentes e em países diferentes, o que fez com que o autor tivesse que se submeter a alguns contratempos que, mais tarde com a carreira já consolidada, ele provavelmente não aceitaria. Assim, temos histórias que contam com o talento de outros artistas e escritores, em uma co-produção inclusive com o próprio Carl Barks!

    A primeira história, “O caçador de crocodilos”, segue a fórmula favorita de Don Rosa, que é a de aventuras de exploração e caça ao tesouro. A trama contém várias referências às histórias antigas de Barks, incluindo o incrível zoológico do Tio Patinhas mostrado na edição Em Busca do Unicórnio,  da coleção O Pato Donald por Carl Barks, publicada pela mesma editora. Na trama, baseada em uma ilustração de capa feita por Barks, Donald e os sobrinhos partem em uma aventura no Egito para encontrar um raríssimo crocodilo. Em seguida, temos Fortuna nas rochas, uma história curta em que Don Rosa usa seu conhecimento sobre geologia adquirido na faculdade para fazer piadas e trocadilhos com pedras (que se perdem na tradução). Mas a terceira história é a que, de longe, chama mais a atenção!

    Volta à Quadradópolis é a primeira continuação direta de uma obra de Barks, dando sequência à história Perdido nos Andes (também publicada na outra coleção). Vale notar o cuidado da tradução em manter os mesmos termos usados na coleção Carl Barks, incluindo a música que Donald havia ensinado aos nativos de Quadradópolis (corrigindo um equívoco ocorrido na última republicação das duas histórias, em Disney Big nº 05). A família Pato retorna aos Andes – dessa vez acompanhados de seu rico tio – para devolver as galinhas quadradas ao seu habitat natural, mas são perseguidos pelo Pão-Duro Mac Mônei, mais uma vez brilhantemente usado como vilão da história. É interessante a forma como Don Rosa representa o impacto cultural que pode ser gerado quando uma inóspita tribo é visitada por membros do chamado “mundo civilizado”, e o quanto de aculturação pode resultar do processo.

    Entre as outras histórias do volume (algumas curtas, centradas em uma piada), vale destacar mais quatro: Um pato vendo estrelas, Sua majestade Patinhas, Viagem no tempo e Ratos, sigam-me!, cada uma por um motivo diferente e igualmente interessante.

    Um pato vendo estrelas nunca foi finalizada, e é apresentada em sua forma de roteiro, com os esboços do próprio Don Rosa. Trata-se de uma peça publicitária, onde Donald e os Sobrinhos visitam o parque Disney-MGM. É a única história de Don Rosa em que Mickey aparece, aqui como uma celebridade dos cinemas (o universo do camundongo não existe nas histórias de Rosa). A história foi engavetada na época e é apresentada de forma crua, possibilitando ao leitor entender como o autor trabalha seus roteiros.

    Sua majestade, Patinhas mostra um pouco do passado de Patópolis quando o Tio Patinhas resolve transformar o Morro Matamotor, onde reside sua Caixa-Forte, em um país independente. A história lida com questões de imigração e impostos, e embora sua premissa seja ingênua à princípio, vemos várias camadas de assuntos sérios e relevantes sobre economia, geopolítica e sociedade, disfarçados de piadas infantis. Alguns elementos dessa história seriam reapresentados mais tarde na épica Saga do Tio Patinhas.

    Viagem no tempo é  uma história bobinha de quatro páginas que merece atenção por algumas curiosidades. Primeiro: não foi desenhada por Barks, o que nos salta logo de cara. Segundo: carrega a marca DuckTales, e apresenta os personagens de uma forma muito diferente do que Don Rosa estabeleceu em suas publicações. Em várias entrevistas e em matérias autobiográficas, Rosa afirma que apenas escreve histórias que possam ser uma continuidade do que Barks fez, recusando a desenhar personagens como o Peninha, por exemplo, que não foi criado pelo Homem dos Patos. Pois bem: nesta história ele escreve para nada menos do que TRÊS personagens criados para a série de TV! O mordomo Leopoldo, o garoto pré-histórico Bubba e o atrapalhado Capitão Bóing, além da Mansão Patinhas abrigar os sobrinhos como estabelecido na série. Aparentemente, Don Rosa é um homem de plenas convicções artísticas apenas quando não precisa de dinheiro…

    Em Ratos, sigam-me!, vemos algo singular: o autor se apropria de um antigo roteiro não finalizado de Carl Barks e desenvolve sua trama, baseada no clássico O flautista de Hamelin. Assim, essa é a única história feita, de certa forma, em conjunto pelos dois grandes artistas!

    Tio Patinhas e Pato Donald: “Volta a Quadradópolis” é um daqueles volumes cheios de gratas surpresas e curiosidades, que remonta a uma fase um tanto conturbada na carreira do autor e mesmo assim prende nossa atenção, tanto pelas ótimas histórias quanto pelas curiosidades de bastidores.

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  • Crítica | O Conto de Natal do Mickey

    Crítica | O Conto de Natal do Mickey

    O Conto de Natal do Mickey, também conhecido como A Canção de Natal do MickeyO Natal do Mickey Mouse, foi um marco nas animações Disney nos anos 1980. O curta-metragem produzido e dirigido por Burny Mattinson, marca o retorno do camundongo às telas em 1983, após 30 anos de hiato. Mattinson, que coincidentemente havia começado a trabalhar com animações na Disney exatamente quando o último desenho do Mickey foi lançado, não podia estar mais empolgado com a empreitada que lhe foi confiada.

    Assim, escolheu a dedo um time de animadores de forma com que cada um se sentisse o mais confortável possível com o personagem ao qual iria dar vida no celuloide. Da mesma forma, o elenco vocal original contou com a presença de uma equipe que já tinha trabalhado em uma versão de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, em um LP dez anos antes. Para a voz do personagem principal, Ebenezer Scrooge (encarnado pelo Tio Patinhas), Alan Young foi o escolhido e sua interpretação foi tão acertada que, poucos anos mais tarde, reprisou o papel do Pato Mais Rico do Mundo na série animada Duck Tales (e em 2013, no videogame Duck Tales Remastered). Young consegue captar soberbamente os contrastes de personalidade de Scrooge/Patinhas, tanto sua avareza quanto, ao final, sua conversão, além de imitar o sotaque escocês de forma natural. No Brasil, Ebenezer Scrooge foi também brilhantemente dublado pelo veterano Isaac Bardavid, a voz do Wolverine nos cinemas.

    Se o clássico de Dickens tinha como óbvia a escolha de Patinhas McPato para representar Ebenezer Scrooge (inclusive, seu nome original “Uncle Scrooge” o referencia), para interpretar Bob Cratchit ninguém seria melhor indicado do que o próprio Mickey Mouse. Para tanto, o técnico de som Wayne Allwine foi escalado e se tornou a terceira pessoa a interpretar o camundongo (o primeiro, de 1928 a 1946, tinha sido o próprio Walt Disney), e continuou como a voz de Mickey até sua morte, em 2009. A personalidade de Mickey se manteve fiel ao que ele sempre foi, mesmo 30 anos depois: pacato e carismático, e um tanto quanto modesto. Um personagem adorável, que mesmo com todos os problemas que enfrenta na vida se mantém otimista e confiante em um futuro melhor. Cratchit trabalha duro, sendo subserviente ao seu inescrupuloso patrão, para sustentar sua mulher e três filhos, sendo o mais novo, Timmy, muito doente.

    A história, como no clássico conto, gira em torno de Ebenezer e sua avareza se confrontando com os espíritos dos natais passado, presente e futuro. Scrooge demonstra prazer em enriquecer de forma ilícita, e tem momentos de pura crueldade, como quando, no passado, executou a hipoteca da própria noiva. O sovina recebe a primeira visita do além quando o fantasma de seu falecido sócio Jacob Marley surge para alertá-lo do que o espera no pós-vida. Marley, “interpretado” pelo atrapalhado Pateta, tinha sido em vida ainda mais cruel que seu sócio e, na morte, foi condenado a arrastar correntes pela eternidade “ou até mais”. Pateta/Marley o avisa que receberá a visita de três espíritos ainda nessa noite, véspera de natal, e o deixa aterrorizado.

    O primeiro espírito, o Fantasma do Natal Passado é interpretado pelo Grilo Falante, e sua introdução traz uma solução visual no mínimo interessante ao vermos uma câmera em primeira pessoa pulando pelo quarto. O fantasma leva Ebenezer Scrooge a revisitar seu passado, desde quando ainda era um jovem tímido, porém promissor, numa cena onde aparece a maior parte das “participações especiais” do curta (incluindo uma rara presença da Vovó Donalda), até sua transformação em um ser detestável e avarento. Contrastando com o grilo, o Fantasma do Natal Presente é representado por Willie, o Gigante de Mickey e o Pé de Feijão (segmento do clássico Como é bom se divertir). O ator vocal Will Ryan procurou manter-se fiel ao personagem, reprisando frases do gigante do curta anterior. Em um momento marcante e bastante sentimental, o gigante mostra para Scrooge como seu empregado Cratchit está passando o natal.

    Alheio à forma como “pessoas normais” vivem, Scrooge mal conseguia imaginar que o salário que pagava a seu empregado não garantiria sequer uma refeição digna. Scrooge se choca mais ainda ao ver o pequeno Timmy, doente e andando com ajuda de muletas, ter sua vida interrompida precocemente. Numa abrupta mudança de cena, vemos a família do camundongo no cemitério, chorando a morte do caçula. Ainda no cemitério, Scrooge vê seu próprio túmulo junto ao Fantasma do Natal Futuro (Bafo de Onça), sendo enterrado solitário, sem família e amigos, e uma clara alusão ao inferno no fundo de sua cova. Ao acordar desesperado, Ebenezer tem então sua conversão, distribuindo dinheiro aos pobres e fazendo a ceia de natal de seu empregado um momento mais feliz, tornando-o seu sócio.

    É possível ver a leveza do personagem de Scrooge ao fim em comparação com o peso que carregava no começo do filme. Até mesmo na forma de andar, antes com as costas arcadas como se carregasse o mundo em seus ombros com todo o peso de seus pecados passados. Em seu despertar, o peso das costas se esvai e Ebenezer fica visivelmente mais leve e, consequentemente um tanto atrapalhado com a súbita mudança, porém uma pessoa mais feliz e altruísta. Talvez a noção cristã de pecado e remissão esteja presente nesse momento, mesmo não se falando em momento algum sobre religião. O natal, nos desenhos Disney, não é exatamente uma data cristã, mas um momento de celebrar com a família e amigos, de desejar paz na Terra a todos, e assim é o final desse desenho, otimista e reconfortante, agradando crianças e adultos igualmente e principalmente nos fazendo refletir junto ao Tio Patinhas sobre nossos atos e nossos anseios para o futuro.

    Se Um Conto de Natal já foi adaptada para todos os meios possíveis, de peças teatrais a longa animado em computação gráfica, passando por novelas radiofônicas e inúmeras sátiras, O Conto de Natal do Mickey é uma das versões mais acalentadoras do conto de Dickens. A produção prima tanto pela qualidade da animação quanto trilha sonora e interpretações vocais, além de colocar personagens consagrados interpretando outros igualmente atemporais. Um clássico que honra as produções Disney anteriores e deixa um legado para as que vieram depois.

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  • Vingadores: Guerra Infinita | Teorias e análises sobre o primeiro trailer

    Vingadores: Guerra Infinita | Teorias e análises sobre o primeiro trailer

    As primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita foram mostradas em julho durante o evento da Disney chamado D23 e causou furor entre os presentes. Os fãs que estavam lá tiveram o “privilégio” de ver que os Vingadores, Guardiões da Galáxia e demais heróis do chamado Marvel Cinematic Universe – MCU terão muito, mas muito trabalho para enfrentar Thanos e seus soldados da Ordem Negra.

    Eis que a espera acabou e o resto do mundo pôde ver o que está por vir com a liberação do primeiro trailer oficial do filme. Informamos que a partir daqui, o texto poderá conter diversos spoilers, assim como teorias que poder ser verdades ou não.

    Logo no início, Nick Fury, Tony Stark, Visão, Thor, Natasha Romanoff proferem aquilo que seria o embrião da Iniciativa Vingadores, iniciada há quase 10 anos com a cena pós créditos de Homem de Ferro, de que havia uma ideia de reunir pessoas incríveis para ver se eles poderiam ser algo mais e que, então, se as pessoas precisassem deles, eles poderiam lutar as batalhas que as pessoas jamais poderiam lutar. Nas imagens já vemos Tony Stark (Robert Downey Jr) completamente acabado em sofrimento, onde se acredita que ele está segurando a mão de alguém que veio a padecer. Vemos também Bruce Banner (Mark Ruffalo) caído e assustado dentro de um buraco, sendo observado pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e Wong (Benedict Wong), quando a imagem corta para o Visão (Paul Bettany), em sua forma humana, num momento de carinho com Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), ao mesmo tempo em que Thor (Chris Hemsworth) aparece a bordo da Millano.

    As imagens a seguir já mostram Stark junto de Banner e Dr. Estranho dentro do Sanctum Sanctorum, enquanto Peter Parker (Tom Holland), dentro de um ônibus, tem seus pelos do braço completamente arrepiados para, logo após, observar uma enorme máquina circular pairando no céu de Nova Iorque. Embora as imagens sejam rápidas, é possível perceber que Stark tem um novo reator em seu peito e é muito provável que esse reator não seja somente um reator, mas também a fonte de onde sairá a sua armadura, o que remete, de certa forma, à armadura Extremis dos quadrinhos, muito embora, seu design seja bastante inspirado na Bleeding Edge, também dos quadrinhos.

    Temos também imagens de Thanos (Josh Brolin) chegando provavelmente na Terra através de um portal, enquanto o Homem-Aranha, vestindo a sua armadura mais tecnológica apresentada ao final de De Volta ao Lar, procura um jeito de desativar a máquina circular, enquanto T’challa (Chadwick Boseman) ordena que a cidade seja evacuada, que todas as defesas sejam acionadas e que peguem um escudo para o homem que sai das sombras. O homem é nada mais nada menos que Steve Rogers (Chris Evans), que inclusive, aparece em cena segurando uma lança atirada pela vilã Próxima Meia Noite. Vale destacar que esse escudo do qual T’Challa menciona, não deverá ser o tradicional escudo do Capitão América, mas sim um escudo usado em Wakanda, onde o guerreiro possui duas placas retráteis de vibranium nos braços.

    O trailer tem um caráter muito urgente e passa a impressão de que é mais tenso do que o primeiro trailer de Vingadores: Era de Ultron. Nas imagens, ainda podemos ver a Hulkbuster chegando em Wakanda, que inclusive receberá uma enorme batalha, onde Capitão América, Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Soldado Invernal (Sebastian Stan), junto do Pantera Negra, Máquina de Combate (Don Cheadle), Hulk e a líder das Dora Milaje, Okoye (Danai Gurira), liderarão o exército de Wakanda contra o exército do Titã Louco, formado pelos Batedores ou pelos Vrexllnexians que já apareceram na série Agents of S.H.I.E.L.D., o que, de certa forma, causa surpresa, uma vez que a decisão mais óbvia seria usar novamente o exército Chitauri do primeiro filme. O trailer termina com Thor perguntando quem são as pessoas para quem ele está olhando e a imagem aponta para os Guardiões da Galáxia, aqui formados por Senhor das Estrelas (Chris Pratt), ostentando um bigodão setentista, Groot (voz de Vin Diesel), em sua forma adolescente, Gamora (Zoe Saldana), Mantis (Pom Klementieff), Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Drax (Dave Bautista).

    No que diz respeito ao enredo propriamente dito, é muito provável que o filme já comece com Thor sendo atropelado junto com outros destroços pelos Guardiões da Galáxia e que, ao ser resgatado pela equipe, começa a contar o que houve com ele, onde a nave contendo a Nova Asgard foi interceptada e destruída pela nave de Thanos. Existe a possibilidade dos Guardiões já estarem numa investigação com o intuito de saberem o que aconteceu com o Colecionador (Benicio Del Toro) e com a Tropa Nova, uma vez que nas imagens do trailer, o vilão possui duas Joias do Infinito e uma delas é justamente o Orbe, que estava sob a posse da tropa, sendo que a outra é o Tesseract, que deve ter sido entregue por Loki (Tom Hiddleston) durante o ataque à nave. E é durante esse ataque que existe a possibilidade de Heimdall (Idris Elba), sob às ordens do Deus do Trovão, enviar Bruce Banner para pedir socorro a Stephen Strange, o que justificaria sua queda exatamente dentro do Sanctum Sanctorum. Banner contacta Tony Stark e eles, provavelmente, serão os primeiros a receberem a investidas de Thanos e sua Ordem Negra. Uma imagem chocante é aquela em que vilão, após colocar a segunda joia em sua manopla, dá um duro golpe que nocauteia o Homem de Ferro de forma muito violenta.

    Vale destacar que o filme deve possuir alguns núcleos separados e somente em certo momento que o Capitão América, Falcão e Viúva Negra irão para Wakanda requerer auxílio ao Pantera Negra e ao Soldado Invernal. Antes disso, o grupo deve estar junto de Visão e Feiticeira Escarlate que sofrem um ataque da Proxima Meia Noite e de Corvus Glaive e é nesse momento que deve acontecer a primeira baixa da equipe, quando o sintetizoide possivelmente terá a jóia que carrega em sua cabeça extraída por Glaive.

    E deve ser Bruce Banner e o Coronel Rhodes que farão o elo de ligação entre os dois fronts de batalha, o de Nova Iorque com o de Wakanda. Por isso, acredita-se que é Banner quem pilota a Hulkbuster, que fará o transporte do cientista até o país africano. Curiosamente, a gigante armadura também aparece na batalha. Se for realmente Banner dentro dela, a teoria é que o herói esteja inseguro em se transformar em Hulk novamente, temendo que o Gigante Esmeralda tome por completo sua consciência, o que faz sentido, contudo, não vale de nada, uma vez que o monstro também aparece nas imagens.

    Obviamente, tudo isso se trata de suposições, afinal, alguns personagens e heróis ainda não apareceram, como o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem-Formiga (Paul Rudd) e a Nebulosa (Karen Gillan), além do fato dos trailers serem montados de maneira aleatória. De qualquer forma, as primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita fizeram tanto sucesso que bateram recorde de visualizações em menos de 24 horas de seu lançamento.

    O filme estreia dia 26 de abril aqui no Brasil.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Rian Johnson bem que tentou avisar, mas aposto que ninguém deu ouvidos e muita gente se arrependeu. Quando perguntado no Twitter sobre o novo trailer, o diretor de Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi foi categórico: “estou legitimamente dividido. Se você quiser vir limpo, absolutamente o evite. Mas está booooooooom…”. Ou seja, o fã deveria evitar assistir ao trailer se quisesse ter uma experiência emocional completa. Não adiantou e o trailer, em pouco mais de dois minutos e meio rachou o planeta nas mais variadas sensações. Só nos resta saber se a prévia entregou demais a trama ou, se no fundo, a Lucasfilm estava apenas jogando com as palavras e com as imagens. Nossa aposta é a segunda opção, mas ainda assim, a sensação de cansaço pós trailer existe e perdura.

    Logo de início vemos um plano mostrando Kylo Ren (Adam Driver), de costas, observando as instalações da Primeira Ordem. Nota-se uma estranha semelhança com Anakin Skywalker. Além deste plano, demais imagens, como a primeira aparição dos andadores, que são uma evolução dos AT-AT de O Império Contra-Ataca se preparando pra batalha. Enquanto isso, a voz em off do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) dizendo para alguém que quando encontrou aquela pessoa, viu nela um poder bruto e incontrolável e que além disso, algo verdadeiramente especial. A imagem corta para Rey (Daisy Ridley) acionando o sabre de luz e as imagens a partir daí mostram ela entregado o sabre a Luke Skywalker (Mark Hamill), onde também uma voz em off da personagem ecoa entre as imagens, dizendo que algo esteve sempre dentro dela e que agora essa coisa despertou e ela precisa de ajuda. Enquanto essas palavras são proferidas, vemos imagens de Rey praticando com o sabre e visitando uma árvore, que, aparentemente é uma árvore da Força, algo que já foi discutido em Rebels. Mas o que mais assusta é quando a jovem aprendiz, durante uma meditação, consegue rachar o local de pedra em que Luke e se encontram, deixando o mestre Jedi apavorado.

    Não dá pra saber ao certo em que momento do filme isso acontece e é muito provável que essas cenas não se comunicam entre si, mas Luke, com um olhar preocupante, aparece dizendo que já viu esse poder bruto uma vez, enquanto imagens de flashback do ataque de Kylo Ren ao templo Jedi de Luke aparecem na tela. Skywalker completa dizendo que aquele poder não o assustou na época, mas que agora o assusta. As imagens se voltam para Kylo Ren, onde o jovem, num momento shakesperiano, olha para sua máscara para, imediatamente, destruí-la na parede com todo ódio possível. Enquanto isso, sua voz, também em off, fala sobre deixar o passado morrer, matá-lo se for preciso, sendo o único jeito de cumprir o seu destino. Outro momento assustador é que enquanto Ren profere as palavras, ele aparece pilotando de forma habilidosa seu caça Tie numa incursão contra a Resistência, outro momento que deve ser um dos 3 grandes do filme.

    Kylo percebe que Leia (Carrie Fisher) está na nave e ela o confronta com a Força. Podemos perceber claramente que o filho da general fica abatido, mas ainda assim, não o suficiente para travar a arma na nave e colocar o dedo sobre o botão de disparo, o que deixa Kylo e Leia agoniados. Vemos em seguida Chewbacca à bordo da Millennium Falcon, fugindo de caças Tie dentro de uma caverna bem apertada (algo já bem estabelecido na franquia) para em seguida vermos imagens de Poe Dameron (Oscar Isaac) provavelmente estando junto da mesma frota em que Leia se encontra, onde o ótimo piloto diz em off que eles são a faísca que acenderá a chama que destruirá a Primeira Ordem e o que vemos a seguir é uma linda imagem onde Finn (John Boyega) e Capitã Phasma (Gwendoline Christie) partem para cima um do outro. A fotografia desse trecho é algo fora do comum.

    O trailer continua com imagens bem mais rápidas da batalha que se dá no espaço, de Rey numa caverna, dentro do refúgio de Luke, além de trechos da batalha no deserto do planeta Crait, onde os AT-AT se preparavam. Podemos ouvir Luke dizendo (provavelmente para Rey) que as coisas não vão acontecer do jeito que ela imagina, para em seguida Snoke aparecer pela primeira vez em carne e osso, enquanto tortura Rey com o uso da Força, dizendo para ela completar seu destino. E aí acontece o que pode ser a maior pegadinha do trailer. Rey diz que precisa de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo para Kylo Ren estender a mão para ela.

    De fato, o primeiro trailer completo de Os Últimos Jedi é bastante obscuro e enche a cabeça do fã de dúvidas, anseios e interrogações. Mas, analisando friamente as imagens, a única conclusão é que Rey e Kylo são os dois de suas gerações e ponto. A Força é extremamente poderosa neles e Snoke, por algum motivo, sentiu isso ao descobrir Kylo Ren, remetendo à Rey como algo especial, ou vice-versa, uma vez que Snoke pode ter chegado em Kylo com o único objetivo de chegar, na verdade, em Rey.

    Outro ponto que se deve ter bastante atenção é que Luke parece sim estar assustado com o tamanho do poder de Rey, remetendo, portanto, ao sentimento que teve quando seu templo Jedi foi destruído. É bastante provável que ele estivesse falando de Kylo (naquela altura, Ben, seu sobrinho) e que dali para frente, ao conhecer o poder de Rey, se negar a dar continuidade ao treinamento da aprendiz por ter falhado uma vez. A julgar pelo que Snoke fala sobre o poder bruto e incontrolável que veio com uma agradável surpresa e pelo fato de Luke ter visto tamanho poder duas vezes, se tem a conclusão que Rey e Kylo possuem uma forte conexão um com o outro, o que pode indicar algum possível parentesco.

    No que diz respeito ao emotivo momento entre Leia e Kylo, acredita-se que o jovem cavaleiro, ao hesitar em atirar na nave de sua mãe (sendo que já matou o próprio pai), não tomará ação alguma e isso, de certa forma, poderá permitir que Kylo tenha uma possível salvação para o lado da luz em contrapartida à Rey, que poderá ceder ao lado negro da Força após ser capturada. Mas, ainda assim, com relação ao final do trailer, é muito provável que a jovem estivesse falando com Luke sobre precisar de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo, pois podemos perceber que tanto a luz, quanto o cenário em que Kylo Ren aparece estendendo sua mão são levemente diferentes em relação a onde Rey se encontra.

    Como a Lucasfilm tem seguido um padrão com a franquia, acredita-se que um segundo trailer poderá ir ao ar um tempo antes da estreia do filme.

    Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi chega no Brasil dia 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Vingadores: Guerra Infinita | Confira a descrição do fantástico trailer exibido na D23

    Vingadores: Guerra Infinita | Confira a descrição do fantástico trailer exibido na D23

    A  Disney é tão enorme que precisa de um evento nos mesmos moldes das Comic Cons para anunciar novidades e imagens exclusivas de seus mais aguardados projetos.

    Felizmente, o terceiro filme dos Vingadores, intitulado de Guerra Infinita, promete ser o maior filme da história do cinema, não só pela quantidade absurda de heróis (todos aqueles que já apareceram até então), mas também por ser um ambicioso projeto trazido pela Marvel.

    O painel do filme contou com o presidente Kevin Feige e o co-diretor, Joe Russo, que conseguiu reunir no palco ninguém mais, ninguém menos que os Vingadores, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Don Cheadle, Anthony Mackie, Tom Holland, Benedict Cumberbatch, Chadwick, Boseman, Sebastian Stan, os Guardiões da Galáxia, Karen Gillan, Dave Bautista, Pom Klementieff e o vilão, Josh Brolin.

    O trailer foi exibido somente para o público presente no salão e foi fantástico. Confira a descrição.

    De início, vemos um momento de tensão, onde os Guardiões da Galáxia, a bordo da Milano, esbarram no corpo inconsciente de Thor (com o uniforme de gladiador de Thor: Ragnarok). Ao ser trazido para dentro da nave, o asgardiano é acordado por Mantis. Assustado, Thor pergunta quem são aquelas pessoas.

    As imagens passam a mostrar a Terra com vários trechos de devastação. Vemos um Loki nada amistoso em posse do Tesseract e Peter Parker, num ônibus, tendo os pelos do braço sendo arrepiados, o que, aparentemente, é o seu sentido de aranha.

    Vemos Thanos pela primeira vez em um planeta alienígena usando a Manopla do Infinito e ele consegue soltar parte de uma lua provocando uma chuva de meteoros. Doutor Estranho, Guardiões da Galáxia e o Homem de Ferro estão na batalha.

    Também vemos em outras imagens o Homem-Aranha vestindo um novo uniforme, o Pantera Negra em Wakanda, alguns Vingadores, juntos do Hulk, apanhando dos asseclas de Thanos e também um Capitão América barbudo e uma Viúva Negra loira.

    O trailer tem um tom dramático, semelhante aos de Homem de Ferro 3 e Vingadores: Era de Ultron.

    Vale destacar que as filmagens do corte principal do filme se encerraram na última sexta-feira e a produção da continuação ainda sem título já teve início de imediato.

    Vingadores: Guerra Infinita estreia em 4 de maio de 2018.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Resenha | Pato Donald por Carl Barks: Em Busca do Unicórnio

    Resenha | Pato Donald por Carl Barks: Em Busca do Unicórnio

    Terceiro volume publicado da série (e oitavo editorialmente), O Pato Donald por Carl Barks: Em busca do unicórnio segue a qualidade gráfica de seus antecessores, e apresenta histórias sensacionais. Barks parece estar mais à vontade com os personagens, principalmente os recém-criados por ele, como Gastão e Tio Patinhas. Esses dois apresentam algumas características que foram aos poucos se perdendo nas histórias mais recentes. A história-título, Em busca do unicórnio, apresenta algo impensável para o Tio Patinhas dos dias de hoje: o velho sovina oferece uma gorda recompensa em dinheiro ao seu sobrinho caso ele cumpra a tarefa de capturar o último unicórnio vivo na Índia. Roteiristas mais novos costumam fazer com que Donald receba apenas 30 centavos por hora de seu tio, ou acabe até devendo algo a ele pelo uso de equipamentos. O Patinhas ainda embrionário de Barks não toma a dianteira da expedição, como faria em futuras obras do autor, terceirizando a ação. O Gastão, também embrionário, não é apenas um ganso sortudo. Ele “faz” a própria sorte, através de meios muitas vezes escusos, enganando e trapaceando seu primo para conseguir encontrar o unicórnio antes dele, e de forma menos trabalhosa. Assim, ao final das histórias com a dupla Donald/Gastão, nem sempre o primo ganso leva a melhor e a justiça poética parece funcionar. Donald pode, vez por outra, usufruir de uma parcela da riqueza de seu abastado tio, afinal!

    Em outra história apresentando a relação entre o pato e seu tio rico, Carta para Papai Noel, vemos um Patinhas menos avarento esbanjando seu rico dinheirinho para presentear seus sobrinhos-netos no natal. Essa história formidável (com direito a uma luta de retro-escavadeiras) já tinha sido republicada recentemente no especial de capa dura Contos de Natal, mas aqui apresenta a paleta de cores original, como todo o volume.

    Talvez o maior destaque da edição seja a história O felizardo do Pólo Norte, na qual Donald arma um esquema para se livrar do seu primo esnobe Gastão, mandando-o a uma infrutífera expedição no gelo polar. As cenas em que o pato sente o peso na consciência de sentenciar o ganso a uma morte glacial são de uma genialidade característica de Barks, e um dos momentos mais humanos do volume.

    A terra dos ídolos é mais uma daquelas histórias que se utilizam dos estereótipos raciais da época ao retratar os nativos americanos. Guardadas as devidas precauções para que não haja um julgamento anacrônico de valor, a história é sensacional! Donald arruma um emprego como vendedor de bugigangas e procura os povos mais isolados da América para empurrar suas quinquilharias. A transformação dos ídolos do título (totens, na verdade) em um enorme órgão à vapor é uma das cenas mais divertidas da edição!

    O volume apresenta Carl Barks bastante à vontade e em sua melhor fase. A qualidade das histórias é muito superior à edição que veio logo a seguir – que seria, cronologicamente, o volume 15 – , e merece um lugar de destaque na coleção de qualquer fã de quadrinhos Disney.

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  • Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Por volta do meio dia, horário de Brasília, desta sexta-feira, teve início o painel de Star Wars: Os Últimos Jedi, na Star Wars Celebration, em Orlando. Como o próprio nome diz, o evento anual busca celebrar Star Wars em todas as plataformas, seja cinema, televisão, games e etc. Durante todo o final de semana teremos novidades a respeito de muita coisa bacana, como foi o caso do painel de Os Últimos Jedi, que assim como em 2015, por causa de O Despertar da Força, trouxe ao palco parte do elenco principal, que nos apresentou curiosidades acerca da produção, encerrando a festa com um belo teaser.

    O apresentador da vez foi o ator Josh Gad, que há meses, vem atormentando Daisy Ridley pelas redes sociais implorando por qualquer informação sobre o mais novo filme da franquia, cujas informações, até então, eram mantidas em absoluto sigilo. O painel teve pouco a relevar, mas, de qualquer forma, para quem não tinha nenhuma notícia, foi bem elucidativo.

    De início, Gad chama ao palco a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, e o diretor Rian Johnson que teve uma recepção calorosa por parte do público. Johnson estava visivelmente desacreditado naquilo que estava vendo (e se manteve assim por todo o painel). O diretor, que esteve presente no painel sobre os 40 anos da saga, somente para assisti-la, ficou até as 3 horas da manhã atendendo todos os fãs lá presentes, o que é incrível.

    Ao ser perguntado sobre o atual status do filme, o diretor respondeu que Os Últimos Jedi se encontra em fase de pós produção, editando e juntando as peças para a edição final. Kennedy adicionou que Johnson está no caminho certo e já figura na lista dos principais diretores com quem ela já trabalhou. Johnson é um diretor muito único e escreve tão bem quanto dirige, principalmente quando se trata de escrever sobre mulheres independentes e destemidas.

    No mesmo tempo em que davam informações sobre o processo de filmagem, fomos apresentados a algumas fotos de bastidores tiradas pelo próprio diretor com sua câmera analógica particular. Ele explicou que era o único que tirava fotos das coisas sem levar um chute na cara.

    Com relação à Carrie Fisher, Johnson conta algo interessante: passava horas sentado na cama da atriz discutindo sobre o roteiro e a General Leia e que após 6 horas de conversa, riscava tudo que havia escrito e mudava o roteiro.

    Era o momento oportuno para Josh Gad chamar Daisy Ridley ao palco. A atriz usando o coque samurai de Rey estava visivelmente sem graça com tamanha recepção. Gad pede perdão por te-la pentelhado por diversas vezes e avisa que ela deverá tomar cuidado, já que a plateia é muito agressiva. O apresentador continua brincando com Daisy, fazendo as perguntas mais ridículas, querendo saber se Rey e Luke são conectados pelo sangue, se o sobrenome dela é Skywalker ou Kenobi, ou se ela somente se chama Rey e mais nada, como se ela fosse a Madonna de Jakku. Passadas as brincadeiras, Ridley foi perguntada se ela se divertiu trabalhando em Os Últimos Jedi e a atriz comenta que o que ela pode dizer é que a trama se aprofunda mais ainda na história de Rey e que ela tem uma certa expectativa em relação a Luke e que muitas pessoas podem passar por isso quando conhecem algum herói e que a experiência pode não ser exatamente como você espera.

    Após uma graça com BB-8 no palco, John Boyega é chamado e o ator teve, o que seja, talvez, a recepção mais calorosa da noite. Boyega explicou que Finn está passando por um processo de recuperação de suas costas gravemente feridas em O Despertar da Força, mas que o personagem voltará com força total e que, desta vez, não está para brincadeiras. Contudo, Boyega afirma que Finn pode estar passando por incertezas sobre o tipo de pessoa que ele quer ser. O personagem, pelo visto, não sabe se quer se juntar à Resistência, ou se continua fugindo da Primeira Ordem.

    Já no que diz respeito à Primeira Ordem, Rian Johnson explica que a destruição da base Starkiller foi uma grande perda, porém, com a República destruída, a galáxia está um caos e as coisas podem ficar feias por conta disso.

    Falando sobre novos personagens, Johnson explica que Os Últimos Jedi traz alguns novos rostos e ele chama ao palco Kelly Marie Tran, um desses rostos que tem grande participação no filme. O diretor adverte que o público vai amá-la. A sorridente atriz disse que escondeu da família por 4 meses que estava no filme. Tran interpreta Rose, uma mulher que faz parte da Resistência e que é da área de manutenção. Johnson traça um paralelo com Luke Skywalker e Rey, que são puxados pra fora da vida que levam e são colocados numa aventura inesperada. Nem Luke, Rey ou Rose eram heróis, ou soldados antes de se tornarem as pessoas que são.

    É chegada a hora de Mark Hamill subir ao palco e uma nova foto de Luke Skywalker é mostrada. Vale destacar que todos os personagens tiveram fotos oficiais apresentadas durante o painel. O ator, que parecia estar muito cansado, mas muito atencioso e brincalhão, disse que Rian Johnson foi até sua casa para conversar sobre o roteiro e coisas do filme e que Hamill disse a Johnson que uma das coisas que ele mais gosta de Rogue One e da trilogia prequel, é que Luke Skywalker não está lá e que ele podia relaxar e aproveitar, sem sofrer a ansiedade em saber se estava fazendo a coisa certa ou não e que ele, naquele momento, estava apavorado. A resposta de Johnson foi que ele também estava apavorado por ter um filme de Star Wars na mão e que por tais motivos, confiou tudo em Johnson e que se o diretor estivesse satisfeito, Hamill também estaria. O ator foi perguntado como foi achar a voz de Luke Skywalker novamente após tantos anos, tanto vocalmente, quanto metaforicamente e Hamill disse que em O Despertar da Força, tudo que se sabia era que Luke era um eremita vivendo num local isolado e que não se tinha nem ao menos informações sobre seu passado e sobre o que aconteceu desde os acontecimentos de O Retorno de Jedi e ele, como ator, gostaria de saber sobre o background de seus personagens, mesmo não sendo importante para a trama, somente com o intuito de desenvolver o personagem. Esse tipo de pensamento foi muito importante para Luke em O Despertar da Força, então, Hamill escreveu sobre o próprio passado de Luke e deu a entender que o filme não é mais sobre Luke Skywalker, mesmo ele sendo uma peça importante para o desenvolvimento da história e que ainda vai existir muito mistério sobre sua participação, mesmo ele estando realmente no filme. Neste momento, Hamill foi interrompido por Kathleen Kennedy e a presidente assegura aos fãs que Luke Skywalker é significativamente importante para o filme.

    Perguntado por Gad se trouxe algum material para mostrar, Rian Johnson joga um banho de água fria na plateia, dizendo que trouxe o primeiro teaser pôster do filme e o que se vê é a fantástica imagem abaixo que traz Rey, Luke e Kylo Ren:

    Após a epifania causada pelo pôster, Johnson avisa que vai ter trailer, sim e o exibe duas vezes para o público. Confira abaixo:

    Johnson, visivelmente emocionado, agradece o público pelo apoio e encerra o painel.

    Star Wars: Os Últimos Jedi estreia no Brasil em 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | A Bela e a Fera

    Crítica | A Bela e a Fera

    A Bela e a Fera surgiu pela primeira vez na França em 1740 com o conto de mesmo nome escrito por Gabrielle Suzenne Barbot, a Dama de Villeneuve. O conto ganhou força 16 anos depois com sua primeira adaptação escrita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, que reduziu a história, além de fazer algumas alterações. Ao longo desses quase 300 anos, A Bela e a Fera teve diversas adaptações para o cinema e televisão, ganhando uma versão “realista” em 2011, chamada A Fera e sua mais recente adaptação, havia sido uma versão francesa estrelada por Vincent Cassel e Léa Seydoux. A versão mais bem sucedida da história, sem dúvida, foi a animação feita pela Disney, em 1991, rendendo uma indicação ao Oscar (até então inédita), além de cravar seu lugar no hall da fama dos clássicos de animação.

    Contudo, com tantas adaptações, algumas delas horríveis e outras muito boas, seria realmente necessário trazer A Bela e a Fera de volta às telonas? É inegável que a Disney está com o projeto de trazer à vida suas principais animações, ela só ainda não assumiu isso, mas sua justificativa é simples e além do que, simplesmente, contar a história com personagens e locações reais. Nesse caso em específico, atualizar Bela, dando um pouco mais de força à personagem, buscando equipara-la às mulheres de nossa época.

    Dirigido por Bill Condon (responsável pelo premiado Dreamgirls: Em Busca de Um Sonho) e escrito por Stephen Chbosky e pelo especialista em animações, que deve ter revisado o roteiro, Evan Spiliotopoulos, A Bela e a Fera faz uma narração como nos tradicionais contos, fazendo a introdução da história que culminou com a maldição do príncipe (Dan Stevens) transformado numa fera amarga e seu castelo que perdeu toda sua vida e cor. Do outro lado da cidade, vive Bela (Emma Watson), uma jovem considerada diferente e estranha naquele lugar apenas por gostar de ler. Bela está cansada da rotineira vida banal que tem naquela região e tem sonhos, mas nenhuma oportunidade de sair do local. A jovem vive dos seus afazeres domésticos e ainda cuida de seu pai, Maurice (Kevin Kline) que aparenta esconder um pouco sobre o passado de Bela e sua mãe. Tão logo somos apresentados à dupla Gaston e LeFou vividos pela boa química dos atores Luke Evans e Josh Gadd. Gaston é um homem forte, bonito e bastante egocêntrico. Embora tenha todas as mulheres da vila a seus pés, o homem tem somente um objetivo: se casar com Bela.

    Aliás, a química entre os atores é a mistura que deu certo para o filme manter a alma da animação, o que foi difícil por contar com diversos personagens e um elenco de peso que não atrapalham em nada o andamento do filme. Talvez o motivo para que isso tenha acontecido é que mais da metade desse elenco é composta por objetos vivos presentes no castelo, que, na verdade, eram as pessoas que estavam no local e que foram afetadas pela maldição atribuída ao príncipe. Então, assim como no desenho, temos os divertidos Lumière (Ewan McGregor) e Cogsworth (Sir Ian McKellen), que são um castiçal e um relógio, a esposa de Lumière, Plumette (Gugu Mbatha-Raw), o bule Mrs. Potts (Emma Thompson) e seu filho, a xícara Chip (Nathan Mack). Completam o elenco Stanley Tucci, como o cravo Maestro Cadenza e sua esposa, Madame Garderobe (Audra McDonald), que foi transformada num armário. São esses objetos que roubam a cena com seus diálogos divertidos.

    O filme é bem fiel à animação, inclusive homenageando alguns takes como se a produção de 1991 servisse de storyboard. Mas isso está longe de ser ruim, uma vez que aliado aos personagens, outros destaques da película ficaram o design de produção, figurino e maquiagem. A vila em que Bela mora é tratada com muito cuidado, cheia de detalhes e sets práticos que chegam a lembrar bastante a Vila dos Hobbits de O Senhor dos Anéis por ser muito bem feita. O castelo onde a Fera vive merece uma atenção especial. A cena da biblioteca é algo extraordinário e boa parte dos segmentos onde há inúmeras pessoas em cena é tratada de forma cantada, como em um musical, sendo que os atores gravaram suas partes de canto em estúdio. Vale destacar que os figurantes dessas cenas estão todos bem coreografados e muito bem vestidos.

    Se pudermos traçar um paralelo com diversas outras animações que ganharam suas versões com atores reais, A Bela e a Fera é exatamente aquilo que os fãs de Dragon Ball queriam que o fracassado filme fosse. Mas, também, estamos falando de uma produção Disney, que quase nunca erra e entrega ao espectador um filme leve, colorido, alegre e divertido. Que venha O Rei Leão!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Meu Amigo, o Dragão

    Crítica | Meu Amigo, o Dragão

    E como num dos deliciosos contos de Roald Dalh, autor de Matilda e o vergonhoso O Bom Gigante Amigo, eis um filme que não trata uma história excepcionalmente infantil de forma fraca ou como apoio para um exagero de efeitos especiais. Temos então o jovem Elliot, espécie de Mogli que vai parar na floresta após um incidente com seus pais. Lá, olha para cima e se depara com seu salvador de 25 metros de altura, 10 metros de cauda e 15 de asas, essas incrivelmente finas para aguentar o corpo do bichano, um dragão. Dentuço, predador, mas com um olhar âmbar irresistível de cão arrependido, no fundo do quintal onde os intolerados, por alguma razão, são mantidos desde sempre.

    Um roteiro que, facilmente, poderia ser o de um filme entre os anos 70 e 90 reprisado em loop na Sessão da Tarde, mas trata-se de um semi-invisível filme de 2016, por mais incrível que pareça. Trata-se, na verdade de um fenômeno nostálgico, desses que nunca perdem o brilho e não se camuflam nem como ‘conservadores’, nem como ‘revolucionários’. Pode-se dizer, ainda, que isso se dá pelo acolhimento à novas tecnologias para contar uma fantástica fábula dessas, já que sem fabulosos efeitos seria impossível recriar (na escala almejada) um dragão peludo cor-de-musgo, o céu onde voa, livre, e sua realidade fabulesca em paralelo com a de seus amigos e algozes bem realistas. Porém, a questão não é essa.

    Embarcamos na história, pois a intervenção aqui de um mito vivendo no mundo real, e contemporâneo, sofre uma bela releitura totalmente inofensiva numa ‘lavagem Disney’ do mesmo feijão com arroz de anteontem, já requentado (sob arquétipos familiares narratológicos) numa porção de ensejos anteriormente já explorados, sobre como a magia ainda pode interferir e remodelar o cotidiano de qualquer cultura, lugar, e em qualquer faixa de tempo. E daí que os efeitos especiais sejam iguais aos de Eragon, de 2005, e muito inferiores ao Smaug de O Hobbit? Eis aqui um êxito que ambas as produções não conseguiram tomar pra si, fazer o coração do robô pulsar. E nisso, justiça seja feita, a Disney humilha a concorrência desde que lápis e papel eram a única maneira de transmitir a imaginação que nunca nos abandona, mesmo longe da infância ou daquela janela do ônibus.

    Como já foi apontado antes em outros tratados críticos meus, no site, qualquer significado mais aprofundado sobre ‘Mito’ na Terra de 2017 (ou sabe-se lá o ano chinês e judaico que nos encontramos) já nos deixou faz tempo; inocência virou burrice e a magia, esta já desacreditada por ratos de laboratório e seus códigos binários. Um dragão habitando hoje nosso planeta, mesmo escondido na floresta mais distante é tão impensável que dói, mesmo que embora não saibamos nem 40% dos segredos que o oceano esconde, mas não seria “Acreditar” o verbo que a Disney sempre mais promoveu e vem nos ensinando, incansavelmente, junto à vassouras, super-heróis e príncipes encantados? A gente não acredita mais no que não pode ser comprovado, essa época já passou, enquanto a ciência tenta provar que o Homem de Ferro pode sim existir no mundo real, e Deus seria apenas uma partícula a ser decodificada boiando numa convidativa infinidade interestelar.

    Talvez por isso que o filme foi desacreditado por boa parte do público, e merece ser descoberto num domingo à tarde. Simples dos pés à cabeça, e grande nos significados e na moral tímida que ostenta – tal sua criatura mitológica com jeito de cachorro domesticado -, Meu Amigo, o Dragão aprimora a cada cena a mistificação e o brilho da situação, sem jamais modernizar o conto a ponto de racionalizar a existência do fantástico, do elemento espetacular de vários carros correndo atrás de um bicho descomunal que voa, voa alto e cospe fogo no alto de uma ponte; no final das contas, assistimos tudo através da ótica infantil e despretensiosa do menino Elliot, tratando o monstro seja no chão ou no céu banhado pela aurora da mesma forma que por ele, também é tratado: Seu melhor amigo de infância. Um filme de infância, em primeiro lugar.

     

  • Resenha | Pato Donald por Carl Barks: O Segredo do Castelo

    Resenha | Pato Donald por Carl Barks: O Segredo do Castelo

    Segundo volume publicado da coleção dedicada a trazer para o leitor toda a obra do Homem dos Patos (e cronologicamente, anterior ao primeiro volume), Pato Donald por Carl Barks: O segredo do castelo nos brinda com o que que há de melhor nos quadrinhos Disney de todos os tempos. Para o leitor e fã brasileiro, essa edição tem uma importância histórica, já que O segredo do castelo foi a primeira hq Disney publicada pela Editora Abril, em O Pato Donald nº 01, em julho de 1950 (dois anos após sua publicação original). A edição segue o padrão da anterior, com papel fosco e de gramatura maior que o normal e mantendo a paleta de cores próxima do original – com um restauro de verdade, não o que vem ocorrendo com as revistas Disney mensais que mais parecem xerox mal feito. A qualidade gráfica é bastante superior a qualquer obra publicada recentemente, o que prova que é realmente uma coleção à parte dos outros encadernados em capa dura da editora.

    Além da história que dá título ao volume, temos mais algumas aventuras longas, outras histórias de dez páginas e várias gags de uma página só. Em qualquer uma delas, vemos a arte de Barks de forma quase que cinematográfica, e painéis estáticos nos passam a noção de movimento necessária para que, em determinados momentos, tenhamos a sensação de estar assistindo um desenho animado. A maestria do roteiro de Barks pode ser percebida pelo tour que ele faz ao redor de vários gêneros literários, seja a aventura de exploração em “Os caçadores da borboleta perdida”, a ficção científica em “Corrida fórmula lua”, o faroeste de “O xerife do Vale Balaço” ou as sitcoms das gags de página única.

    Interessante notar como os personagens coadjuvantes ainda não apresentam as características que conhecemos hoje. O Ganso Gastão, por exemplo, embora rivalize com seu primo e se mostre um folgado convicto, ainda não tem a sorte como elemento chave de sua personalidade (sua história de estreia consta nesse volume, mesmo tendo sido republicada há pouco tempo em Contos de Natal, mas dessa vez com as cores originais). Os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho ainda não são os Escoteiros Mirins que seriam mais tarde, e embora já não sejam mais os pestinhas das tiras dominicais de Al Taliaferro, tomam atitudes bastante questionáveis. Tio Patinhas é uma figura distante, longe do protagonista que se tornaria mais tarde pelas mãos do próprio Carl Barks, digno de estrelar sua própria série animada nos anos 80.

    Se há algo no volume que não agrada o leitor é o preço: 60 patacas é bastante salgado, mesmo pra um volume de qualidade como esse. Talvez compense esperar por promoções em sites especializados.

    Cada história – inclusive as gags – é analisada ao fim da edição por vários estudiosos de literatura e quadrinhos, que dão um gosto ainda melhor pra cada uma delas ao situarem o contexto histórico em que estão inseridas, bem como o momento da vida do autor que refletem. O trabalho de restauro é muito bem feito, principalmente em “Os caçadores da borboleta perdida”, cuja arte original havia se perdido há muito tempo e foi redesenhada em 1982 pelo artista holandês Daan Jipes. Nesse volume, ela teve seu restauro com base em uma edição italiana de 1950 e finalmente a vemos com a arte de Carl Barks novamente. Aos fãs, resta torcer para que a coleção seja publicada até o fim, mantendo a qualidade que vem se mostrando até agora.

  • Crítica | Moana: Um Mar de Aventuras

    Crítica | Moana: Um Mar de Aventuras

    Em uma ilha no Pacífico vive uma comunidade tribal, cuja principal fonte de alimento é o coco. A tribo tem uma vida harmoniosa e feliz, e sua principal regra é não se afastar da ilha. Moana (Auli’i Cravalho), filha do chefe local, sonha com o além-mar e é impedida por seu pai de se aventurar além dos recifes. Porém, desde criança, o oceano parece chamá-la para o desbravamento, e a filha do chefe cresce com esse ímpeto em seu coração – principalmente por ter ouvido histórias de sua avó sobre um semideus destemido que podia se transformar em qualquer animal e que estaria perdido em alguma ilha oceano adentro.

    Esse é o princípio de Moana: Um Mar de Aventuras, dirigido pela dupla John Musker e Ron Clements (A Pequena Sereia, Aladdin, Hércules, A Princesa e o Sapo), e nova empreitada da Disney em longas animados. A história é inspirada em lendas polinésias, e desde o início já se viu envolta em polêmicas. A empresa foi acusada de apropriação cultural por representar  a cultura maori, principalmente o semideus Maui (Dwayne Johnson), que é tido como uma ancestral real desses povos. A isso se somou um isolado episódio no Dia Das Bruxas, em que uma fantasia do personagem continha também suas tatuagens, algo que foi considerado um desrepeito, pois, as tatuagens maorio são pessoais e intransferíveis. Um pequeno erro da Disney que, de qualquer maneira, tomou o cuidado necessário para respeitar a fonte de inspiração. Ainda que para parte do público ocidental pareça irrelevante, as críticas talvez tenham sido exageradas, já que até mesmo The Rock foi criticado pelo sotaque e pronúncias de palavras regionais, mesmo sendo ele descendente da família real de Samoa.

    Na trama, The Rock interpreta Maui, que embora seja apresentado a princípio como um herói destemido, mostra-se uma pessoa bastante arrogante ao se encontrar com Moana, personagem-título e exemplo dessa nova safra de princesas que tomam o protagonismo de suas vidas sem esperar por um príncipe encantado. Aliás, princesa não, afinal Moana faz questão de deixar claro durante o filme que não é uma princesa, e sim uma líder, destacando o girl power.

    Para salvar sua ilha do definhamento pelo qual está passando – falta de alimentos, desde o coco até os peixes – Moana descobre que precisa seguir as antigas lendas e procurar Maui para juntos devolverem o coração de Te Fiti, a deusa que criou a ilha. Assim, desobedecendo seu pai e a tradição que deveria manter, ela decide se aventurar pelo oceano. A protagonista ajuda Maui a encontrar seu anzol mágico, e em contrapartida, Maui a ajuda a restaurar a natureza em sua ilha. Dentre as aventuras, a dupla enfrenta piratas pigmeus em forma de coco conhecidos como Kakamora, em uma parte do filme que definitivamente não acrescenta nada à trama. Dentre os alívios cômicos (obrigatórios em filmes Disney) temos o galo Hei Hei, um ser absolutamente descerebrado que sabe-se lá como ainda se mantém vivo, e as tatuagens animadas de Maui, que não só contam sua história como também interagem com os personagens. A avó de Moana, Tala (Rachel House), faz o papel da velha sábia que conduz a protagonista ao seu destino, tal qual Rafiki em O Rei Leão ou o Mestre Yoda em Star Wars.

    A qualidade dos gráficos é realmente impressionante, principalmente no relevo das tatuagens e na animação das águas. Se alguns anos atrás os animadores evitavam representar água em CGI, o novo longa da Disney prova que essa é uma barreira já ultrapassada. Os personagens são carismáticos e até mesmo o vilão Tamatoa (Jemaine Clement), o caranguejo gigante, gera empatia com os espectadores em seu número musical (aliás, as músicas da versão dublada não perdem em nada para o original). Se os próximos filmes do estúdio continuarem seguindo essa qualidade, a ideia de que estamos vivendo uma nova renascença Disney pode se confirmar, sem sombra de dúvidas.

  • Resenha | Um Brasileiro Chamado Zé Carioca

    Resenha | Um Brasileiro Chamado Zé Carioca

    ze-carioca-vortex-culturalAs edições luxuosas de quadrinhos, com capa dura e impressão em couché, parecem ter mesmo caído no gosto do consumidor brasileiro. Além de uma vasta coleção quinzenal da Marvel e da DC Comics (pela Salvat e Eaglemoss, respectivamente), a Editora Abril tem lançado uma bem-sucedida série de encadernados com os personagens Disney. Embora não seja exatamente uma coleção com numeração ou sequência – na verdade, existem duas outras ramificações, com os Manuais Disney e O Pato Donald por Carl Barks, que seguem diferentes das demais – as edições em capa dura apresentam geralmente um bom material.

    Um Brasileiro Chamado Zé Carioca é a primeira dessas edições com material 100% nacional. Lançado em novembro de 2015, esse volume traz a fase de transição do personagem para algo verdadeiramente brasileiro, pelas mãos de Ivan Saidenberg (roteiro) e Renato Canini (desenhos). Criado em 1942 para o filme Alô, Amigos – parte da política de boa vizinhança dos Estados Unidos com os países latinos – Joe Carioca estreou nas tirinhas americanas ainda antes da película estrear nos cinemas. A transformação de “Joe” em “Zé” passou ainda por Jorge Kato – que desenhou suas primeiras histórias brasileiras e frequentemente adaptava aventuras de outros personagens como Mickey ou Pato Donald, substituindo-os pelo papagaio – mas consagrou-se mesmo no traço de Canini. O desenhista gaúcho retratou o malandro de forma muito mais abrasileirada, livrando-se do terno e gravata e dando a ele um visual mais condizente com o calor tropical do Rio de Janeiro (muito antes da reformulação “radical” dos anos 90). O paulista Saidenberg, por sua vez, pesquisou a fundo os hábitos e costumes do povo carioca e inseriu-os em suas narrativas.

    Assim, temos um Zé mais humano e brasileiro que nunca, que embora tenha fama de malandro está sempre arrumando um jeito de ganhar a vida. O Zé da dupla Saidenberg/Canini não é o preguiçoso que outros artistas costumam representar. Ele aparenta ser mais jovem e cheio de vida, com uma energia imensa para gastar com seus trambiques. Junto dele, seu inseparável amigo Nestor se torna a “voz da consciência”, mesmo não sendo levado muito a sério. A Vila Xurupita ainda não estava plenamente desenvolvida, mas o barraco do Zé no Morro do Papagaio é um retrato exageradamente cômico da vida nas favelas cariocas da década de 70.

    Como contraponto, vemos também seus primos de outros estados brasileiros, cada um representando um estereótipo regional, tal como o próprio Zé Carioca. Ainda vemos as primeiras aparições do vizinho e amigo Pedrão, que ganharia mais importância nas histórias das décadas posteriores. A edição traz também a primeira história do alter-ego do Zé, o Morcego Verde, que da mesma forma que o Capitão Feio da turma da Mônica se transforma após ser soterrado pela sua coleção de gibis.

    As histórias narram as mais diversas aventuras, desde coisas simples como uma feijoada até contos em outros mundos de fantasia, passando por futebol, carnaval e muito samba. Os personagens coadjuvantes por vezes fogem do padrão “ave ou cachorro”, e vemos Zé Carioca interagir com outros animais humanizados pouco usuais nos quadrinhos Disney, como sapos, cobras ou rinocerontes! Além dos trambiques, histórias de mistério também permeiam os 44 contos dessa edição.

    O texto de Ivan Saidenberg é realmente muito engraçado, mesmo nas situações mais absurdas. Junto ao traço caricato, propositalmente desproporcional e fora dos padrões Disney de Renato Canini, temos uma excelente obra que merece muito um segundo volume!

    Compre: Um Brasileiro Chamado Zé Carioca.

  • Dez Anos Após Superman: O Retorno | O Que Mudou?

    Dez Anos Após Superman: O Retorno | O Que Mudou?

    Em 2006, estreava Superman – O Retorno, obra de espírito antigo com um salvador bem diferente do Deus que intimida de 2016, antes incapaz de matar uma mosca, hoje análogo a um demônio quando atira seus raios-laser… O pano e o corte da capa invocam, mais do que nunca, a ostentação de um deus grego soberbo. Mas o que tudo a seguir tem a ver com os dois Superman, se da postura até a roupa tudo mudou?  A resposta mais uma vez chega escondida na história.

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    Steve Ross, um empresário americano, adquiriu uma Warner Bros. que ainda engatinhava nos negócios, ainda em 1969. Em dois anos, bem produtivos, o cara já fazia suas aquisições para aumentar ainda mais o fluxo de grana – em meio a competição da Fox, Disney, etc. Entre empresas de videogame (Atari) e times de futebol americano (New York Cosmos), Ross fez uma bela de uma aliança com a DC Comics, vendo no elo entre a gigante do cinema, e dos quadrinhos a chance do primeiro filmão de super-heróis do Cinema: Superman, de 1978 (um homem que voa, nossa!), rendendo 300 milhões de dólares. 30 anos depois, a Disney comprava a Marvel e tudo volta ao presente…

    Só que enquanto a empresa do Mickey foi a pioneira em registrar suas histórias em várias formas de marketing (parque, camiseta, canecas), a Warner do Patolino iniciou o modelo de negócios mistos, misturando suas apostas em videogame, futebol e quadrinhos para equilibrar os grandes riscos que a indústria do entretenimento traz: Duas técnicas quase ultrapassadas se feitas separadamente, sendo que hoje, com modelos já consolidados de negócio, nada mais importa que uma boa relação com os valiosos personagens de mídias vizinhas. Todo mundo quer um pedaço do grande bolo.

    O que a arte (e o coração dos fãs e críticos) custa pra entender é a lógica da carteira: O que vale mais, uma história bem contada ou um Transformers que vende milhares de produtos em vários tipos de negócios, muito além do ingresso do cinema? O modelo da Disney e da Warner casaram – e continuam muito bem – graças a um mercado que não dá a mínima se a gente prefere Marvel, DC ou Turma da Mônica – ou se essa lógica prejudica adaptações como a de Watchmen, mais preocupada com suas figuras que na fantástica histórica de Alan Moore. Isso é briguinha de cachorro pequeno no fundo do quintal, inaudível aos pitbulls da casa grande, ainda que uma briga saudável em todos os pontos: Faz bem pra eles, e bem pro senso-crítico do público domesticado de shopping.

    Esquadrão Suicida estreou com críticas que fizeram Homem-Aranha 3 e Batman e Robin parecer obras-primas de tão ruins (e com justiça), mas a polêmica o fez lucrar muito mais que o esperado, da mesma forma que o anestesiante Guerra Civil da Marvel lucrou pelas críticas positivas. No final, todos conseguiram pagar o aluguel, e no quintal o AU-AU continua, previsivelmente, com a certeza ainda que subconsciente por parte dos fãs (e do grande público) que Marvel, DC e seus estúdios estão migrando cada vez mais para uma operação de licenciamento de personagens, ou seja se importando mais com o que queremos assistir, do que aquilo que, em tese, precisamos consumir, do que rumo a um empreendimento a favor de novas e diferentes histórias de acordo com o economista Edward J. Epstein.

    Um ótimo exemplo disso é observar como o público de hoje não tem mais paciência de assistir ou ler uma boa narrativa, se nela não estiver um vampiro bronzeado, ou um pervertido branco e milionário… Portanto, se você é super Marvete, mega DCnauta e não gosta de Transformers porque “o filme não tem história”, seja bipolar o bastante e dê um tapa na sua e na minha cara: Todos nós ajudamos a criar esse terrível monstro do “não tem história, mas tem gente diferentona”. Na verdade, são tempos difíceis quando, pra refletir sobre uma realidade, fica quase inevitável não se fazer uma crítica sobre ela… Mas se até um feriado prolongado acaba, calma que as histórias um dia voltarão a reinar. 2007 foi o ano-chave do fenômeno, com o Aranha, um pirata, um ogro, um robô e um bruxo mandando o recado: O cinema mainstream é mais das sequências, dos bonecos, e menos das narrativas boas de verdade. Ninguém quer correr grandes riscos, ninguém…

    … exceto a DC – graças a Deus. Se Hollywood hoje dorme com Stan Lee e Jim Lee, deuses da nona-arte, a DC impede que um monopólio ideológico de opiniões massificadas e mais fascistas a cada ano se forme, numa indústria voltada aos mais jovens, recusando-se de “vestir” seus deuses gregos quase onipotentes com as “roupas” mais bem-sucedidas da Marvel, devido sua máquina de marketing. Por isso, nota-se em 2016 que a Marvel faz tudo para o bem dos negócios e do marketing (fazendo filmes que o público quer assistir, lucrando mais que empresa de água no Saara), e a DC para o bem da tradição dos seus personagens (mantendo sua identidade ao custo de entregar filmes de pegada ainda experimental, mas que fazem justiça tanto a identidade original da marca, quanto ao avanço dos novos tempos, daí o contraste do Super de 2006 com esse, dez anos depois) – duas iniciativas respectivamente quase opostas daquilo que Disney e Warner um dia, já apostaram. Tudo mudou, e vai mudar ainda mais, mas relaxa que vai ser difícil não mudar ao nosso favor… Nas nossas relações sociais, mimo demais só é bom pra quem precisa controlar o gado; deixar bem mansinho…

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    Portanto obrigado, DC, por mostrar o Batman tirando sangue dos criminosos, e valeu Marvel, por não mostrar o Capitão América fazendo a mesma coisa. E por que eu não agradeço a Deadpool? Porque apesar de estar longe de ser um filme perfeito (e existe alguma obra perfeita, oráculo?), de acordo com Tim Wu e o ótimo livro Impérios da Comunicação, da editora Zahar, “perfeição e liberdade nunca foram totalmente compatíveis”. Então valeu Marvel, e principalmente, DC. Continuem longe uma da outra, dando a falsa impressão de competição, girando a roda, cada uma na sua estrada, mesmo que nenhuma delas leve ao verdadeiro Cinema que nos oferecem e nos vendem, sem medo de promover bonecos dos Vingadores em prol de alimentar grandes propagandas enganosas.

  • Resenha | Pato Donald por Carl Barks: Perdidos nos Andes

    Resenha | Pato Donald por Carl Barks: Perdidos nos Andes

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    A coleção dedicada a republicar todas as histórias do Homem dos Patos começou de maneira sensacional! Pato Donald por Carl Barks: Perdidos nos Andes é o primeiro volume da série a chegar às bancas e livrarias brasileiras – embora seja o sétimo da coleção, que não está sendo publicada cronologicamente, da mesma forma que a editora Salvat faz com sua coleção de graphic novels da Marvel – e não poderia ter começado melhor. Publicada nos Estados Unidos pela Fantagraphics, a série apresenta todas as histórias escritas e desenhadas por Carl Barks, e resgata a paleta de cores originais da época (diferentes das últimas republicações, que tinham as cores remasterizadas) além da arte original, sem alterações. Barks foi o mais importante quadrinista Disney, e esta edição mostra porque ele é tão reverenciado.

    Perdidos nos Andes traz a clássica história homônima, na qual Donald e seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho encontram uma civilização perdida onde não existe nada na forma circular, chamada de Quadradópolis. A expedição começa quando acidentalmente, Donald descobre que as rochas em exposição no museu eram, na verdade, ovos quadrados! A investigação sobre a origem dos ovos quadrados (cúbicos, na verdade) leva Donald e seus sobrinhos a uma busca pelas montanhas do Peru, em antigo território inca. É interessante notar como Barks representa os nativos de forma a sempre parecerem exóticos e não-civilizados, além de um tanto quanto preguiçosos ou oportunistas. Parece ser a visão que se tinha na década de 1940 dos povos de terceiro mundo. Mas ao encontrar a tal civilização perdida, num local isolado por montanhas e névoas, vemos que a assimilação de hábitos e costumes norte-americanos está representada através da música que os nativos cantam e da língua que falam (inglês, evidentemente perdido na tradução). Assim, a família Pato passa por diversas situações em um cenário deslumbrante, fruto da melhor fase criativa de Barks.

    Além da história-título, ainda vemos na primeira parte do volume – dedicada às grandes aventuras – um outro clássico absoluto: Donald na África. Essa aventura emocionante é também alvo de duas polêmicas. A primeira está na representação dos nativos africanos como figuras sombrias e assustadoras, parte da iconografia estereotipada – e por que não dizer, racista – da época em que foi produzida. Outras edições recentes nas quais essas histórias foram publicadas tiveram sua arte alterada para amenizar o estereótipo. Desta vez, manteve-se todos as caricaturas racistas da época (inclusive um personagem que aparece na primeira página da história, Bop-Bop, que é claramente inspirado nos black faces dos minstrel shows), porém com textos explicativos que contextualizam a obra. Assim, ao invés de varrer pra debaixo do tapete esse momento vergonhoso das representações gráficas de povos afrodescendentes (como fez a Warner com seus desenhos antigos do Pernalonga), a Disney assume seus erros do passado. A segunda polêmica envolvendo essa história é a afirmação do Tio Patinhas de que teria contratado mercenários para expulsar as tribos das terras africanas que ele tomou posse, no passado. São detalhes importantes e com grande significado para entendermos as mudanças pelas quais nossa sociedade passou no último século, mas que não atrapalham ou fazem muita diferença na história em si. Na trama, Donald é perseguido por um zumbi africano que o confunde com seu tio rico e lança nele uma maldição vodu. Donald viaja então para a África pra livrar-se dessa maldição, encontrando o feiticeiro que a conjurou. Interessante notar como o velho Patinhas, em sua breve aparição, faz pouco caso disso, enquanto Donald é movido pelo medo e superstição. Parece que Barks, ao inserir o ceticismo como parte da personalidade do Tio Patinhas, faz uma crítica à credulidade da sociedade.

    Mais duas grandes aventuras recheiam o volume, sendo elas A árvore de natal dourada (que já foi republicada há pouco tempo no especial Contos de Natal, porém com colorização diferente) e Primo, você é que tem sorte, onde Donald e Gastão disputam uma corrida naval para salvar seu velho tio em uma ilha perdida.

    Embora alguns estereótipos salte aos olhos do leitor moderno, as histórias não são pautadas nas polêmicas, e sim nas personalidades de seus protagonistas. Donald, embora um pato, reflete todos os aspectos da personalidade humana. Ambição, desejo, frustração, medo, raiva… Seja qual for o sentimento, não poderia estar mais humanizado do que nas expressões do Pato. Nos identificamos com Donald, pois não temos a fortuna do Tio Patinhas, a sorte do Gastão ou a esperteza dos seus sobrinhos: o Pato é um homem comum como qualquer um de nós. Embora não possua uma mente brilhante, é um trabalhador esforçado que faz de tudo para sobreviver. Seus sobrinhos funcionam ora como sua consciência, como na história principal, ora como antagonistas, como na história em que Donald é um inspetor de alunos que os flagra cabulando aula.

    Além das longas aventuras, temos mais duas partes no livro: uma dedicada a histórias curtas de dez páginas e outra com gags de uma página só. Barks, que trabalhou anteriormente nos estúdios de animação da Disney, sabe conduzir todas elas com maestria. Os personagens aparentam ter volume, peso e ocupar realmente um lugar no espaço do cenário, e a ação ocorre de forma fluida e fácil de acompanhar. Os ricos detalhes dos desenhos não atrapalham a leitura da trama.

    Para encerrar o livro, temos vários textos explicativos, comentando cada uma das histórias, assim como uma biografia de Carl Barks nas primeiras páginas. O papel utilizado para o miolo é diferente do que vinha sendo usado nos outros especiais de capa dura da Abril, mas por um motivo peculiar: para preservar a leitura de forma mais parecida possível com a original. Assim dispensou-se o couché, que deixava as cores brilhantes e optou-se pelo off-white, que é mais fosco e cansa menos a vista. Na verdade, tanto seu formato quanto conteúdo fogem do padrão que a Abril estabeleceu nos últimos encadernados, notoriamente por se tratar de uma outra coleção. O volume tem metade das páginas da edição dedicada aos quadrinhos de DuckTales, porém sua qualidade é bastante superior, tanto nas histórias quanto no material extra. Tanto fãs antigos como quem nunca leu uma história dos patos tem nesse volume uma excelente compilação de histórias do maior artista que passou pelas histórias em quadrinhos de Walt Disney.

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  • Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

    Resenha | Ducktales: Os Caçadores de Aventuras (1)

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    Entre 1987 e 1990, a Disney produziu aquela que viria a ser sua mais famosa série animada, estrelada por ninguém menos que o velho sovina Tio Patinhas e seus sobrinhos-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho. Ducktales é ainda hoje lembrada com muito carinho por quem foi criança na época, e grande parte do seu sucesso foi devido à capacidade dos produtores em manterem-se fiéis às histórias em quadrinhos. Mesmo com algumas criações exclusivas para a série e algumas licenças poéticas que mudariam personagens já consagrados, o espírito aventureiro das obras clássicas de Carl Barks estava presente em cada episódio.

    Não demorou muito para que a transição inversa de mídia acontecesse: uma série baseada em quadrinhos acabou baseando, também, histórias em quadrinhos! Esses quadrinhos diferiam das habituais por incorporarem elementos antes exclusivos da série, como personalidades diferentes para cada um dos Irmãos Metralhas ou a origem escocesa do Pão-Duro MacMônei, que nos quadrinhos era sul-africano. Além de uma revista mensal, os patos tiveram algumas minisséries publicadas pela Editora Abril, sendo que três delas estão reunidas nesse volume de capa dura intitulado apenas Ducktales: Os Caçadores de Aventuras.

    Em busca da Número Um

    A primeira saga do volume é também a melhor das três e tem o roteiro assinado pelo consagrado escritor Marv Wolfman, conhecido pelo seu trabalho na DC Comics com os Novos Titãs e a maxissérie Crise nas Infinitas Terras. Wolfman resgata a atmosfera aventureira das histórias de Barks e demonstra um grande cuidado na caracterização de cada personagem. A história em sete partes começa com a vilã Maga Patalójika sequestrando a patinha Patrícia – neta da governanta Madame Patilda e para a qual Patinhas demonstra o mesmo carinho que tem pelos seus sobrinhos. Pelo resgate de Patrícia, Maga obriga Patinhas a entregar sua moedinha da sorte, a Número Um. Essa moeda foi a primeira que ele ganhou na vida e tem para ele um grande valor sentimental.

    O Tio Patinhas de Marv Wolfman é muito menos sovina e tem um coração muito mais mole do que as versões com as quais estamos acostumados por aqui – principalmente se comparado às hqs italianas ou mesmo brasileiras. Embora ainda tenha uma enorme sede por acumular riquezas, o velho não se importa em desfazer delas se isso significar o bem de seus entes queridos. Assim, vemos Patinhas abrindo mão de sua moedinha para resgatar a querida Patrícia, mas acaba caindo em um golpe sujo da bruxa.

    A saga então passa a ser sobre o resgate dessa moedinha e a busca pela Maga Patalójika, levando a família de patos e seus amigos a aventuras ao redor do mundo, tal qual na série animada. Destaque para o Capitão Bóing, que aqui aparece caracterizado como na primeira temporada da série animada: meio atrapalhado, porém valente e aventureiro. Paralela à história da moedinha, temos uma outra trama envolvendo o Pão-Duro MacMônei (que nessa história teve seu nome traduzido como MacMônei Coração-de-Pedra) na qual o rival se apropria das empresas Patinhas através de golpes financeiros. Patópolis é rebatizada como MacMópolis, e vemos a total ausência do poder público na cidade, sendo que todos os bens e serviços são advindos da iniciativa privada (asfalto, iluminação pública, saneamento básico…).

    Maga Patalójika está muito mais poderosa do que o habitual e sua presença é realmente assustadora. A habilidade de Wolfman de contar uma grande história, com muitos personagens, é visível e tudo se encaixa com sagacidade. Personagens como Madame Patilda, Asnésio, Professor Pardal e Leopoldo, embora não sejam importantes para a trama e alguns sequer tenham fala, marcam presença e garantem a atmosfera do desenho na saga, fazendo parte do cenário. Carl Barks também faz uma aparição na história como um aliado do vilão, e é uma bela homenagem ao Homem dos Patos.

    A odisseia do ouro

    A segunda saga do volume, com roteiro de Bob Langhans, trata de um meteoro de ouro descoberto por Patinhas e MacMônei e uma viagem pelo espaço para tomar posse dele. O clima de aventura também permeia toda a história e alguns momentos são bem divertidos. Asnésio, o patinho escoteiro rechonchudo, ganha uma importância maior, tendo um arco focado nele. Incomoda um pouco o uso de “ganchos” pelo roteirista a cada final de capítulo, que parece não ser usado de forma muito inteligente. Esses ganchos dão a impressão de que os capítulos simplesmente acabam “pela metade”, e a resolução na próxima parte soa corrida. Mais uma vez, vemos um Patinhas não muito apegado aos seus tesouros, e isso contrasta com a personalidade de MacMônei na história. Capitão Bóing continua aventureiro, porém mais falastrão do que na primeira saga.

    Alguns cuidados por parte da equipe de tradução foram negligenciados, e temos balões trocados em um quadro, assim como o nome de um dos sobrinhos em uma parte da história. Além disso, o topete do Bóing aparece sem cor em vários quadros, o que embora não atrapalhe o entendimento da história, causa certa estranheza ao leitor mais atento.

    Legítimos donos

    A terceira e última saga do volume é uma pena. Escrita por Warren Spector, designer do jogo Epic Mickey, a premissa é muito interessante, mas desperdiçada de uma forma tão inacreditável que chega a dar dó! A história parte do princípio de que muitos dos tesouros do Patinhas foram adquiridos através de apropriação cultural e, portanto, devem ser devolvidos aos seus legítimos donos. Uma excelente ideia, mas muito mal desenvolvida.

    Mesmo assim, temos alguns pontos pertinentes. A arte é bem diferente das duas séries anteriores, mais moderna e flertando com o estilo Disney italiano. Embora seja boa, não se mantém constante e as proporções dos personagens mudam muito de um capítulo para outro. As cores são definitivamente a melhor parte, e é a única coisa na história superior ao resto do volume.

    A história começa com uma exibição no museu de Patópolis dedicada às aventuras de seu mais notável cidadão. Assim, os tesouros conquistados por Patinhas em diversas ocasiões são expostos orgulhosamente, o que causa um certo constrangimento em Patrícia, que acaba convencendo o tio a devolvê-los. Junto a isso, o também ricaço esbanjador Patacôncio faz uma aposta com o velho Patinhas “nos termos de sempre”, o que significa que o perdedor deverá comer seu chapéu. Assim inicia-se uma jornada à tribos remotas para a devolução dos pertences.

    Mas o roteiro não funciona direito. A começar com a escolha do rival Patacôncio, que nunca sequer apareceu na série animada e não é tão popular nos Estados Unidos quanto no Brasil ou Itália. Peninha faz uma ponta que poderia passar despercebida, e Donald, apesar de citado e de aparecer em dois quadros, não teve nenhuma notoriedade na história – diferente do que a condução do roteiro parecia sugerir. Margarida – outra que nunca apareceu no desenho – surge como repórter, talvez uma referência à série Quack Pack, e o Capitão Bóing está muito diferente das histórias anteriores. Menos aventureiro e muito mais abobalhado, Bóing lembra mais sua versão no spin-off Darkwing Duck, inclusive citando sua temporada em St. Canard. Muitas e muitas referências às aventuras passadas são simplesmente jogadas na história, sem causar empatia a leitores que não as conhecem, e nem nostalgia aos fãs antigos. O desenvolvimento da primeira parte não se mantém no mesmo ritmo, forçando a história a correr na última parte, atropelando a narrativa. E ainda se encerra com um gancho forçado, que em nada contribui para o entendimento da trama. O resultado é uma história confusa, fraca, com personagens rasos e que mais parece uma fanfic do que um produto oficial.

    Acabamento de luxo

    Embora tenha seus problemas, o volume é muito bom. A capa dura com reserva de verniz tem a aparência de uma peça de pedra de algum templo antigo e é realmente muito bonita. Impossível não comprar com a arte dos filmes de Indiana Jones, clara inspiração para a série. O material extra traz um excelente texto contando a trajetória dos Caçadores de Aventuras em diversas mídias, e é realmente muito bom. As páginas em couché dão um brilho às histórias e a encadernação é perfeita, como vem sendo nas outras edições de capa dura da editora. É uma peça para se guardar na coleção e, mesmo com seus problemas, no coração de quem já cantou a música tema de Ducktales com empolgação um dia!

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