Crítica | A Noiva de Chucky
A Noiva de Chucky é a primeira tentativa de repaginar os filmes do boneco psicopata, reunindo mais elementos de comédia que de terror. Lançado dez anos depois do clássico Brinquedo Assassino, o longa de Ronny Yu mostra Tiffany, personagem de Jennifer Tilly, que começa a história cometendo o assassinato de um policial só para resgatar os restos mortais do boneco. Logo, ela faz um ritual de vodu graças a um manual de magia negra para amadores e faz o personagem dublado por Brad Dourif retornar a vida.
A franquia vinha em baixa, Brinquedo Assassino 3 deixou o criador Don Mancini em espera e por mais que hajam críticas pertinentes aos novos rumos da franquia, a dinâmica deu certo. O uso do clichê de par romântico do monstro, ao estilo A Noiva de Frankenstein e A Noiva do Re-Animator casa bem com o tom satírico. Outro ponto é a quebra de quarta-parede, embora o tom aqui seja nada sutil.
Yu tinha pouca experiência no cinema americano, vinha da produção do filme de fantasia Guerreiros da Virtude, mas ele fez bem seu papel, pois na proposta de tornar tudo mais cômico, há mais acertos que erros. Anos mais tardes, coube-lhe comandar o crossover Freddy vs Jason, que tem elementos presentes nesta obra de 1998. A atmosfera de autoparódia funciona, e a violência explícita idem, transformando ele em um bom exemplo no cinismo que tomou o cinema noventista.
A abordagem ao estilo videoclipe é acertada e a trilha sonora é um dos pontos fortes, em especial a sequência com Living Dead Girl, de Rob Zombie — curiosamente se tornaria um diretor promissor em 2003 com A Casa dos Mil Corpos e Halloween: O Início — que estabelece quem seria o protagonista dessa história e demonstrando que as regras de transferência de alma seriam mais corrompidas ainda.
O brilho do filme reside nas personagens femininas. Tilly estava no auge de sua beleza, o carisma da atriz a faz variar naturalmente entre a mulher hilária e tola, que ao esbarrar em clichês de romantismo barato acaba fracassando no intento de ser a mulher fatal perfeita. Tiff é incapaz de perceber que sua relação com Charles é abusiva, exceção feita ao final, quando decide poupar Jade (Katherine Heigl). A outra moça, aliás também faz um bom papel, e acaba sendo uma scream queen tão boa que chega a destoar do que é comum em obras de slasher. O problema reside nos personagens masculinos rasos. Chucky ainda consegue ter seu brilho, especialmente quando entra em competição com seu par. É sacana, vingativo, amargurado, mas ainda assim, um coadjuvante de luxo do drama da noiva.
O filme quando não se leva a sério acerta, embora hajam referências bobas até demais, como os souvenirs de personagens de A Hora do Pesadelo, sexta-feira 13 e Halloween, em uma clara cópia a Batman & Robin de Joel Schumacher, que um ano antes, fez uma cena semelhante mostrando quinquilharias dos vilões antigos do Morcego quando no Asilo Arkham.
A tentativa de repetir os clichês de Assassinos por Natureza e Bonnie e Clyde: Rajada de Balas, colaboram para deixar o terço final cansativo. Os atalhos que Mancini escolhe não tem muito sentido, e o filme carece de um ritmo bom. No trecho final, ainda há um momento bom, ao menos pela bizarrice, sendo a briga entre bonecos um conceito tão sem noção que soa cômico. A Noiva de Chucky é das continuações a mais acertada, pois busca algo diferente mesmo que tenha um final apelativo e tenha gerado tantos herdeiros bastardos.