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  • Crítica | O Grinch (2000)

    Crítica | O Grinch (2000)

    O Grinch é um longa natalino dos anos 2000, protagonizado por Jim Carrey e dirigido pelo boa praça Ron Howard. A trama se desenrola mostrando passado e presente do famoso personagem que odeia o Natal, por um motivo que no original era um mistério, mas que seria descoberto pela pequena Cindy Lou (Taylor Momsen).

    Lendo a sinopse, o longa parece mais uma história comum que retrata a data festiva, mas o roteiro trata de uma adaptação do escritor Dr. Seuss, famoso na literatura infantil por trazer histórias cínicas, que não tratam crianças como pessoas ingênuas e tolas. Suas mensagens divergem bastante do status quo e do conservadorismo de sua época.

    A preocupação dos estúdios era apresentar uma história sobre como o consumismo arruína o sentimento natalino, quando a história é mais que isso, dado que mostra uma personagem cuja raiz de maldade é desconhecida, e esse é um dos charmes dele, diferente desta versão.

    Mas nem tudo é negativo. Cindy representa uma variação da ideia de Seuss a respeito da perversão dos valores mais puros da sociedade. Ela questiona sua família e amigos do quanto eles se entregam para o consumismo e o quão supérfluo pode ser essa linha de pensamento, e perceber que existe outra figura que também não simpatiza com a data, no caso, o Grinch, faz ela seguir na direção dele.

    Há uma dificuldade de Hollywood em lidar com a mitologia de Seuss, em O Gato, lançado em 2003, o resultado foi tão negativo que a viúva do escritor entrou na justiça para que não houvesse mais filmes live actions baseado nesses livros infantis. A Illumination atualmente tem os direitos das histórias, e dribla essa condição fazendo filmes animados baseados nos livros do escritor, todas vazias de significado feitas unicamente para vender brinquedos e afins.

    Se o leitor estiver realmente curioso para ver obras sobre a carreira e personagens do autir, nos anos sessenta foi lançada uma série de animações para a televisão, entre elas Como o Grinch Roubou o Natal, comandada pelo mestre em animações Chuck Jones, o mesmo que ajudou a imortalizar a figura sacana de Pernalonga e outras personagens Looney Tunes na segunda metade do século XX.

    A produção é peculiar especialmente pela caracterização dos Quem. Ao passo que a direção de arte acerta na figura do Grinch e no cenário de sua casa — suja, bagunçada e cavernosa, como o interior do “monstro” — toda a arquitetura da Quemlândia é caricata, parecendo mais um parque de diversões de baixo investimento do que o lar de uma raça humanoide estranha. Não há também um equilíbrio entre os momentos mais lúdicos e o humor mais  físico. Há muitos piadas de flatulência, e elas parecem estranhas ao dividir espaço com a narração prosaica de  Anthony Hopkins.

    Ao menos a atmosfera da obra denuncia a falsa moralidade de autoridades políticas e do povo em geral, mas o preço para isso é uma abordagem que chega a irritar de tão doce que é a mentalidade dos Quem ou ao que eles pregam, já que praticamente todas as pessoas do vilarejo escondem algo. É fácil entender o Grinch, odiar essas pessoas é obrigação para qualquer sujeito honesto.

    Dr. Seuss escrevia de maneira sucinta, então para ter uma história de mais de noventa minutos foi preciso inventar muita coisa. Aqui se dá um passado trágico ao personagem, que visa explicar sua rejeição ao natal. A motivação soa banal e piora quando divide tela com as desnecessárias referências a cultura pop. A ideia de transformar o vilão em alguém que se autoflagela não era ruim, e visto a qualidade das produções posteriores das adaptações do autor, essa é a mais bem sucedida nos cinemas, especialmente por não demonizar o incompreendido, embora o Grinch não necessite de redenção ou de explicação para a raiz de seus problemas. Se isso não fosse o bastante, infelizmente, o personagem ainda fica marcado demais pelo desempenho físico de Carrey, que mesmo estando bem, ajuda a descaracterizar o personagem clássico transformando-o em outra coisa.

  • Crítica | Matrix Ressurrections

    Crítica | Matrix Ressurrections

    Crítica Matrix Ressurrections

    Matrix Ressurrections é o quarto filme da saga iniciada em Matrix, lançada 18 anos após o terceiro volume da saga, Matrix Revolutions. Todo seu material de divulgação dava conta da possibilidade de um reboot, com elementos que ressuscitariam os conceitos da trilogia original.

    É bem difícil falar a respeito da obra dirigida por Lana Wachowski — Lilly não quis retornar por motivos pessoais — sem falar a respeito dos rumos narrativos da história. Contudo, há uma ideia que beira o genial na história e que faz um bom comentário metalinguístico, especialmente no que envolve o personagem de Keanu Reeves. Associar os eventos da trilogia a outro tipo de simulação é bastante válido, e gera momentos verdadeiramente hilários.

    Fora isso, os novos personagens são em sua maioria muito divertidos e icônicos, e até melhor aproveitados do que na versão de 1999, onde a maioria da trupe comandada pelo Morpheus de Laurence Fishburne são apenas estilosos, e não tem muita importância ou tempo de desenvolvimento.

    Outra questão bastante positiva é a fotografia, assinada por Daniele Massaccesi, que já vinha trabalhando como operador de câmera em filmes com as Wachowsky e com o diretor Ridley Scott, além do veterano John Toll de Coração Valente, Além da Linha Vermelha e também A Viagem, O Destino de Júpiter e Sense8, produções das diretoras que criaram Matrix. A mudança nas cores da simulação, saindo o verde dos códigos para o azul semelhante a pílula também serve bem como um comentário a respeito da mudança de abordagem desta parte da saga.

    Jessica Henwick, Yahya Abdul-Mateen II e Jonathan Groff estão muito bens em seus papéis, até Pryanka Chopra Jones, introduzida em segundo momento, é bem utilizada. Carrie-Anne Moss e Jada Pinkett Smith também acrescentam bastante em seu retorno, o ponto negativo na atuação recai sobre Neil Patrick Harris, que varia entre o personagem discreto e o canastrão sem nuances, e nem a desculpa de programação salva esse desempenho.

    Após Neo fazer um acordo com as máquinas para que deixasse a humanidade de Zion em paz no final do último filme da trilogia acompanhamos o desenrolar desse ato. Esse armistício tem um bom desenvolvimento, e ver como o quadro evoluiu é uma boa surpresa, tanto visualmente quanto em conceito, dado que boa parte da política mostrada aqui foi plantada nos filmes anteriores. O problema mesmo é a função de Neo na simulação.

    O personagem de Reeves era o escolhido, como Jesus Cristo que se entregou em sacrifício para derrotar um vírus. No entanto, nesta versão o personagem estar na posição em que inicia o filme, com tanto acesso a questões que lembram o funcionamento de um simulacro, não faz nenhum sentido. Se é preciso que se mantenha um inimigo por perto, não faz sentido dar-lhe recursos que podem ser encarados como armas.

    Importante lembrar que na gênese do projeto Matrix, as irmãs Wachowski queriam que os humanos fossem como computadores. Em conversa com os estúdios se decidiu que seriam baterias. A opção deste novo filme de aludir a isso, mesmo que de forma não literal é ótima, pois além de remeter a ideia original, ainda traz novas camadas para a discussão. Visto que a mente humana tem maior capacidade criativa que uma máquina, faz todo sentido utilizar no simulacro a força e esforço criativo a favor da simulação, ao invés de apenas consumir a energia oriunda dela.

    O filme reforça o subtexto sobre assumir a real identidade de maneira ainda mais certeira, com todo o roteiro sendo menos sutil que na trilogia original. Isso poderia ser encarado como algo ruim, mas já que boa parte do público julgou mal alguns dos conceitos de Matrix Reloaded e Revolutions, é bom que esteja aqui para não haver dúvidas.

    A solução final de Matrix Ressurrections é apressada, e parece ser uma sina em tudo que envolve a série pós-1999, mas as atuações, atmosfera cyberpunk e as cenas de ação lembram os momentos áureos do cinema das Wachowsky, e trazem um bom fôlego ao filme.

  • Review | Chucky – 1ª Temporada

    Review | Chucky – 1ª Temporada

    Desde 1988 Don Mancini vive à custa de seu principal e mais famoso personagem, Charles Lee Ray, o boneco popularmente conhecido como Chucky. Depois de um hiato de quatro anos, finalmente chegou às telas pelo canal SyFy, a primeira temporada de Chucky, que remonta as origens do assassino em Hackensack, onde um boneco Good Guy que carrega a alma do assassino é encontrado por um menino confuso e a partir daí uma estranha saga se inicia.

    Com expectativas baixas graças ao resultado do último filme, O Culto de Chucky, o piloto da série surpreende por conta das ideias que aborda, especialmente no que toca a personalidade do seu protagonista Jake (Zackary Arthur). O personagem tem questões bem complicadas a lidar, como ser  LGBTI+ e viver em uma família conservadora, sofre bullying no colégio.

    Essa última condição é um ponto bem positivo da série, pois dá espaço para mostrar uma escola que parece uma instituição real do ensino médio, e não as caricaturas de seriados e filmes que colocam pessoas de meia-idade interpretando estudantes. Chucky conversa bem com produções atuais que tem esse cuidado, como os recentes Cobra Kai e Ghostbusters: Mais Além.

    Quando se pensa em histórias do boneco serial killer se espera obviamente uma série de assassinatos e nisso o seriado não decepciona. Já em seu início há mortes criativas e tão bizarras que causam risos. Mais uma vez o boneco dublado por Brad Dourif parece à vontade ao cometer seus atos maléficos.

    Da parte da mitologia, há alguns acréscimos bem esdrúxulos, mostrando que Mancini finalmente desapegou de transformar a série em algo mais sério e já aceitou que este é um besteirol com elementos de terror — o que certamente irritará o fã mais ranzinza, mas o tom de autoparódia e o gore exagerado compensa isso.

    Da parte do elenco “novo”, é frustrante que Jake tenha um intérprete tão incapaz de variar expressões. Arthur é bem limitado, fato que ajuda de certa forma no choque inicial de ver Chucky agindo como alguém compreensivo e distante de preconceitos. Algo mudou de O Filho de Chucky até aqui. O restante do elenco juvenil compensa a dificuldade do personagem central, Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) e Júnior (Teo Briones) são bons personagens, tem camadas apesar de pouco tempo de tela.

    A série também se dedica a mostrar o passado do assassino, as primeiras mortes e até a relação que ele teve com Tiffany. As aparições do elenco dos filmes também é bem pontuado, Jennifer Tilly está hilária e Fiona Dourif também faz bem seus múltiplos papéis. Ainda assim, os flashbacks acrescentam conteúdo, ratificando a ideia de que não se ignora nada nesta cronologia, embora as participações de Alex Vincent e Christine Elise não sejam tão extensas quanto poderiam.

    Chucky acrescenta elementos bem bizarros a lógica do ritual vudu, e ainda apresenta a localidade de Hackensack como o lar da imoralidade, associando o lugar ao conto macabro Tempestade do Século. Esse lugar ter produzido o estrangulador de Lakeshore faz sentido, assim como a busca dele por um sucessor. Mancini consegue finalmente trazer um roteiro pleno em exageros e diversão.

  • Crítica | Os Pequenos Vestígios

    Crítica | Os Pequenos Vestígios

    Um dos primeiros filmes que a HBO Max colocou no mercado americano no esquema de lançamento simultâneo nos cinemas e na plataforma de streaming, Os Pequenos Vestígios parecia fadado ao sucesso. Um filme estrelado por Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto, além de ser um projeto de estimação do diretor/roteirista John Lee Hancock, amigo de Clint Eastwood, diretor de boas obras como Um Sonho Possível e Fome de Poder, além de roteirista de Um Mundo Perfeito, filmaço dirigido e estrelado por Clint e Kevin Costner. Entretanto, o que parecia ser bom demais, acabou sendo apenas mediano, onde incrivelmente o maior destaque é excelente atuação do controverso Jared Leto, ofuscando seus colegas de elenco.

    Na trama do filme, Washington vive o policial Joe Deacon, um homem que notadamente tem um mistério que o cerca. Enviado de volta a Los Angeles após cinco anos trabalhando em uma cidadezinha próxima, Deacon se envolve em um caso liderado pelo jovem e quase esnobe sargento Jimmy Baxter (Malek). À medida que a inicialmente oposta dupla trabalha junta, mais semelhanças entre suas personalidades vão aparecendo. E o caso — que envolve seis vítimas mulheres assassinadas de modos similares — também vai trazendo à tona o mistério em torno de Deacon.

    O filme tem uma sequência inicial eletrizante, onde uma mulher é perseguida por um homem em uma estrada sem nenhum movimento. Isso faz com que o interesse do espectador se eleve de maneira exponencial. Porém, à medida que os acontecimentos do filme vão se desenrolando, o interesse vai diminuindo até chegar ao ponto em que chegar ao final é uma mera obrigação.

    Durante anos, Hancock tentou levar seu projeto às telas. Steven Spielberg demonstrou um interesse inicial no projeto em 1993, logo que o primeiro rascunho de roteiro ficou pronto, mas desistiu por achar violento demais. Hancock então tentou Eastwood, que até ficou atrelado ao projeto, mas também desistiu. Warren Beatty e Danny DeVito também estiveram vinculados em dado momento, mas nada aconteceu. Hancock então, já com uma boa experiência de diretor acumulada, resolveu levar o projeto adiante como diretor. Talvez seja esse tenha sido o grande problema aqui.

    No intuito de tornar o filme mais misterioso, Hancock resolveu ambientá-lo no início da década de 90, época que não havia certas tecnologias que hoje auxiliam na resolução de crimes. Foi uma saída inteligente que ajuda a acentuar a atmosfera neo-noir da película, já muitíssimo bem estabelecida por uma fotografia caprichada, fazendo com que cada personagem envolvido na trama tenha ainda mais conflitos internos a serem resolvidos, principalmente no que tange à sua competência para o trabalho. O desenvolvimento da investigação é bastante arrastado e repleto de soluções fáceis que em muito destoam da tentativa de fazer um filme “verossímil”, principalmente no terço final. Há um momento em que o tom do filme se torna confuso, pois ao invés de evidenciar uma angústia de um personagem, soa como um flerte com o sobrenatural e foge totalmente da proposta do filme. Além disso, o plot twist é um tanto decepcionante.

    O filme também se apoia bastante nos personagens. Entretanto, a construção da personalidade dos protagonistas soa bastante rasa e o caso mais emblemático é o do personagem de Washington. Seu passado misterioso não devidamente definido e nem suas interações com pessoas de seu antigo convívio ajudam na sua construção. Existem dois diálogos risíveis, um com uma antiga colega de trabalho e o outro com sua ex-esposa, que deveriam despertar alguma empatia no espectador, mas despertam somente estranheza. Já Malek fica como um grande chato durante boa parte do tempo, somente provocando alguma simpatia no espectador na parte final do filme. Porém, Leto se esbalda.

    Chega a ser estranho um filme com Washington e Malek ter como grande destaque o ator que deu vida à pior encarnação do Coringa de todos os tempos. Entretanto, Leto aqui parece totalmente consciente do seu talento para atuação, como vimos em Clube de Compras Dallas, quanto do tanto que consegue despertar aversão nas pessoas, tal como temos visto ao longo dos anos com seus comportamentos bizarros em sets de filmagens e com os seus fãs, o que faz como que ele crie um personagem realmente repulsivo e muito interessante. Seu Albert Sparza, o principal suspeito dos crimes, é um baita acerto e o maior motivo para continuar assistindo o filme até o final. Suas indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor ator coadjuvante foram justíssimas.

    Enfim, Hancock desperdiça uma grande oportunidade ao conduzir o filme com mão pesada, passando a impressão de que nas mãos de outros diretores ou mesmo após um trato por outro roteirista, Os Pequenos Vestígios poderia ser realmente o grande filme policial que aparentava ser quando foi apresentado por seu trailer.

  • Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Com 007 Só se Vive Duas Vezes é o quinto filme da franquia do espião inglês. A história aborda a investigação sobre o desaparecimento de duas naves, uma americana e outra soviética, e a missão do agente vivido por Sean Connery em tentar descobrir o responsável pelo plano que pode causar conflito entre as duas maiores potências mundiais da época.

    O tema do longa reflete muito bem o período envolvendo a corrida espacial entre as duas potências, além de referenciar Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, bastante popular à época e estava em sua segunda temporada. Além disso, a velha fórmula das aventuras de James Bond se faz presente, gadgets criativos, moças bonitas, carros e estilo de vida luxuosos. Esse é o primeiro filme de Lewis Gilbert como diretor na franquia – ele retornaria em 007: O Espião Que me Amava e 007 Contra o Foguete da Morte, com Roger Moore no papel central. A questão mais marcante e positiva é como o super-agente é preparado, pois, ainda que em uma terra estrangeira e distante, ele parece ser íntimo de outras culturas e idiomas.

    Ao mudar de cenário a obra exibe suas fragilidades. Se apela demais para clichês locais. Connery se disfarça de japonês, incluindo não só um penteado com uma peruca muito falsa que o faz parecer um noviço franciscano, como na maquiagem forte que faz com que seus olhos fiquem puxados. Isso já era ofensivo na época e, obviamente, envelheceu bastante mal, para piorar ainda se mostra uma academia ninja nada discreta, que banaliza as práticas do ninjitsu e das artes marciais, desde o caratê até a esgrima samurai. Essa falta de sutileza causa um humor involuntário, onde claramente não era a intenção.

    Esse é mais um filme de Bond que aborda a organização da Spectre. O clássico vilão Blofeld é interpretado por Donald Pleasence, dos clássicos de John Carpenter (Halloween: A Noite do Terror, Príncipe das Trevas e Fuga de Nova York). No entanto, sua atuação é discreta e confere ao personagem um ar de mistério.

    A música You Only Live Twice, cantada por Nancy Sinatra e composta por John Barry, resgata bem a atmosfera dos filmes de aventura dos anos sessenta, sempre frenéticos e repletos de uma violência irreal, bem no estilo que se espera de um Bond clássico. Com 007 Só se Vive Duas Vezes é mais um filme que se vale dos chavões do personagem de Ian Fleming e marcaria a despedida, ainda que breve, de seu intérprete.

  • Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

    Review Homem Aranha Sem Volta Para Casa

    Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.

    O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.

    Os  roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.

    O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.

    A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.

    A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.

  • Crítica | Turma da Mônica: Lições

    Crítica | Turma da Mônica: Lições

    Turma da Mônica: Lições é a nova versão cinematográfica das historinhas da turma do Bairro do Limoeiro, trazendo como protagonistas, naturalmente, o quarteto formado por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali em uma aventura que põe a prova os paradigmas e estereótipos das quatro crianças. O filme é conduzido novamente por Daniel Rezende dando continuação à Turma da Mônica: Laços, baseada na história em quadrinhos homônima de Vitor e Lu Cafaggi.

    A história se desenrola no início de modo bem lúdico, com as crianças ensaiando uma peça que será apresentada em breve. Já nesse início há um belo destaque para um dos fatores mais positivos do filme, a fuga da modernidade e da atualidade. Há uma aura retrô na construção desse universo, os telefones são antigos, os vestuários e penteados também parecem ser de outra época, e ao contrário da versão de 2019, não há um apelo tão forte a um linguajar repleto de gírias típicas dos anos 2000.

    A Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, é sem dúvida a maior e mais popular série em quadrinhos no Brasil. Com as novas versões nas Graphics MSP, seria natural expandir, e lançar-se em outras mídias. Nessa tradução seria muito fácil ocorrer a diluição dessa aura mais inocente e ingênua que os gibis clássicos sempre tiveram, e Rezende, mesmo com tão pouco tempo enquanto diretor conduz bem seu elenco, para além do quarteto formado por Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira e Laura Rauseo.

    Todas as participações (e são muitas) funcionam, há química não só entre os protagonistas, mas com todos os coadjuvantes (novos ou não). Há realmente uma sinergia presente entre eles, algo que remete diretamente a série de Cao Hambúrguer, Castelo Rá-Tim-Bum, que tinha um elenco de crianças que funcionavam juntos, mas bem mais velho, em média, dos que compõem o núcleo desta obra, o esperado é que não demore muito a fazer outros filmes, pois o elenco certamente envelhecerá, e pode ocorrer com ele o mesmo que com Stranger Things, onde os atores estão grandes demais para seus papéis nas temporadas recentes.

    O roteiro de Thiago Dottori trabalha bem não só o relacionamento entre os amigos, mas também as aparições dos personagens clássicos. Franjinha, Do Contra, Nimbus, Marina e tantas outras crianças aparecem, e cada uma delas têm pelo menos um bom momento como centro da narrativa. Até versões da Turma da Tina, com Rolo, Pipa e Zecão são bem representadas, e embora não tenham o mesmo poder do Louco no piloto automático, e sirva ao roteiro como a contraparte mais velha da Mônica, uma torta tática de roteiro utilizada desde que o cinema se tornou uma forma de arte super popular.

    Turma da Mônica: Lições apresenta uma nova versão para os meninos e meninas, obriga-os a crescer e perceber que precisam um do outro, mesmo quando são forçados a se separar. Além disso, as superações deles, por menores que sejam, representam bem os tentos que crianças devem ter ao longo de sua infância. Obviamente, o maior foco da adaptação é a diversão, mas sua história é coesa e mesmo nas interferências bobas, ainda conseguem soar doces.

     

     

  • Crítica | Brinquedo Assassino 3

    Crítica | Brinquedo Assassino 3

    Brinquedo Assassino 3 foi apressadamente lançado em 1991, um ano após Brinquedo Assassino 2. Na trama, após um período, a Play Pals Toys resolve reativar sua fábrica, e acaba restaurando o boneco que comporta a alma de Charles Lee Ray. Dessa vez, Andy Barclay (Justin Whalin) — oito anos mais velho que no filme anterior — vive em uma instituição militar, já que o garoto foi tão traumatizado que resolveu treinar e se armar para eventualmente enfrentar o boneco novamente.

    Essa parte três carece de originalidade, se parecendo demais com o início dos outros filmes, incluindo Brinquedo Assassino. O comentário mais inteligente se dá fora da trama entre a ganância da companhia de brinquedos, e claro, o desespero do estúdio por espremer cada vez mais a fórmula da franquia.

    Outro bom ponto é a reconstrução do boneco ocorrendo com os créditos iniciais. Jack Bender, de Hora do Terror dirige a produção. Ele ficaria mais famoso pela participação em séries como Sr. Mercedes e Família Soprano, mas pouco se percebe seus talentos nessa produção, exceção feita as mortes no quartel, que destacam o sadismo do personagem dublado por Brad Dourif.

    Outro destaque é Whalin, famoso após o filme por interpretar Jimmy Olsen nas primeiras temporadas de Lois & Clark: As Novas Aventuras de Superman, além de Mamãe é de Morte, de John Waters, e pelo esquecível Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora. O protagonista claramente não capturou a essência de Andy Barclay, mas isso não é condenável completamente, até porque a última vez que ele foi visto, ainda era uma criança. O grave problema é não haver personagens secundários minimamente carismáticos para dar suporte ao protagonista, são todos genéricos. O filme ainda possui boas sacadas, como o início da criatura atacando seu “criador”, com Chucky assassinando o dono da Play Pals Toys, além das cenas com outros bonecos Good Guys.

    Ao menos a obra tem boas cenas do boneco que David Kirschner criou, a movimentação dele está cada vez melhor, embora siga não fazendo sentido um assassino de menos de um metro ser tão eficiente. Brinquedo Assassino 3 fica no limiar entre a abordagem mais séria e as versões mais humorísticas que Don Mancini empregaria anos depois, mas certamente seria melhor construído caso tivesse mais tempo para amadurecer as boas ideias e podar as ruins.

  • Crítica | Amor, Sublime Amor (2021)

    Crítica | Amor, Sublime Amor (2021)

    West Side Story é um musical da Broadway, conhecido por suas várias versões, sendo a mais famosa vista no filme de Robert Wise e Jerome Robbins lançado em 1961. Sua história atualiza o conto shakesperiano de Romeu e Julieta, ambientando na cidade de Nova York  do século XX. A expectativa em relação à nova versão de  Amor, Sublime Amor não eram pequenas, ainda mais por ser conduzida por Steven Spielberg, que vem de uma fase de adaptações bastante elogiadas.

    As escolhas visuais e temáticas do cineasta foram bem diferentes da versão dos anos sessenta. O figurino das gangues Jets e Sharks, assim como a direção de arte é bem mais realista nesta abordagem. Como na primeira montagem cinematográfica, o longa também se inicia com uma tomada aérea sobre a cidade de Nova York, dessa vez, bem mais cinza e suja, combinando com o visual maltrapilho dos grupos de foras-da-lei.

    O roteiro fica a cargo de Tony Kushner, que já trabalhou antes com o realizador em Munique e Lincoln. Aqui há um subtexto diferente da versão de Wise: o território disputado estava em fase de realocação urbana, ou seja, estavam todos se despedindo e em vias de sofrer despejo, o pedaço de terra era utilizado apenas pelos miseráveis que não tinham condições de se mudar. Os personagens possuem problemas reais, faltam-lhe condições básicas de conforto e de sobrevivência. No entanto, esses trechos poderiam ser menos didáticos.

    O elenco é comandado por Ansel Elgort (Em Ritmo de Fuga), que faz o papel do recém-reabilitado Tony, fundador dos Jets, e que se submete a um trabalho simples para tentar se regenerar nesse momento de liberdade condicional, distante dos seus antigos colegas de vadiagem. Ainda assim, ele causa em Riff (Mike Faist) a esperança de poder, enfim, sobrepujar os seus rivais, de maneira “definitiva”, mas sem os eufemismos ou artifícios retóricos que tentam esconder a vontade de matar, e até mesmo de morrer, comum a tragédia de tantos jovens.

    Tony é a exceção dentro dos Jets. Ao contrário dos outros rapazes ele tem uma ocupação. Ele é como um dos Sharks, dado que do grupo, todos trabalham, mesmo os que estudam. De maneira simples o roteiro demonstra como funciona a realidade diferenciada deles, pois mesmo sendo pobres, os brancos podem se dar ao luxo de não trabalhar, enquanto os hispânicos precisam lutar para viver.

    Tanto Riff quanto Bernardo (David Alvarez) são inspiradores se comparados aos seus capangas, mas os melhores diálogos e canções caem sobre a protagonista, Maria (Rachel Zegler), uma menina inocente e disposta a amar infinitamente. Já Anita (Ariana DeBose), é uma moça que não se permite domar nem pelo namorado violento, e nem pelas pressões comuns a um jovem latino na América. Dos arcos dramáticos, este é o mais profundo e plausível, seu intento de ser uma desenhista de moda é um bom resumo do desejo de vencer na vida.

    Os amores são mostrados quase sempre de maneira trágica e melancólica, em especial os que envolvem os personagens latinos. Tony e Maria tem química, se sentem unidos mesmo em meio ao mar de gente no momento de seu encontro. A atração pelo olhar e pela alma é pontuado de forma intensa, fato que faz essa versão contemplar bem o mito de William Shakespeare. Pode-se dizer o mesmo de Anita e Bernardo.

    Os coadjuvantes têm seu espaço, protagonizam cenas de dança grandiosas, além de números de sapateado igualmente bons. A maior parte das cenas são maiores aqui do que em comparação com a versão de Wise, além de não se depender tanto de Tony ou Riff para acontecerem os momentos musicais dos Jets. A música de Gustavo Dudamel está muito bem encaixada, e a melodia, letra e coreografia fluem muitíssimo bem. A atmosfera de musical moderno faz invejar obras recentes como La La Land: Cantandos Estações e Os Miseráveis, no sentido de popular e épico.

    Amor, Sublime Amor é divertido, consegue variar bem entre o escapismo e a violência. Spielberg captura bem a atmosfera da delinquência juvenil que residia nos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra. Sua forma de contar história certamente agradará o público afeito a musicais, e consegue saciar até quem não costuma consumir esse gênero, mas sua maior qualidade é a de atualizar bem os temas do clássico, com alma, emoção e energia. O único senão fica com as legendas que poderiam ter um maior cuidado com o que é dito nas músicas. Não é preciso ser especialista em língua inglesa para perceber que os textos não casam com o que é cantado e tudo é completamente modificado em sentido e espírito.

  • Review | Guilty Gear Strive

    Review | Guilty Gear Strive

    Review | Guilty Gear Strive

    Guilty Gear Strive (GGST) veio para atrair novos adeptos à franquia enquanto tenta manter os antigos fãs. Houve mudanças grandes, diferentemente do título anterior, Xrd, que praticamente refez o XX com gráficos maravilhosamente lindos.

    O grande chamariz de GGST foi o netcode, que permitiria partidas online sem lag com oponentes de outros países. Tal promessa foi cumprida, tanto que realizaram torneios entre jogadores de países diferentes. Mas antes de adentrar neste aspecto, vamos falar do jogo em si.

    O primeiro elemento a ser destacado é o visual. Gráficos 3D que simulam o 2D, possibilitando mudanças de ângulo da câmera, foi algo que a própria franquia inaugurou anos atrás e foi reutilizado em outro grande jogo de luta da Arc System, Dragon Ball FighterZ (DBFZ). Se você não viu os últimos jogos de Guilty Gear, provavelmente ficou de queixo caído com o visual de DBFZ. Saiba que aquele desbunde visual está em GGST, e preciso dizer, dá gosto de ver este jogo, é lindo demais, principalmente se você é fã de animes.

    As lutas se mantém no eixo 2D, ou seja, nada de passos laterais iguais a Tekken. Aqui temos pulos duplos, superpulo, defesa no ar, corrida no ar e no chão, ou seja, GGST possui movimentação bem solta. Apesar de haver todos os fundamentos básicos dos jogos de luta (incluindo jogo neutro), é bem visível que GGST valoriza muito a ofensiva. É possível aplicar quantidades absurdas de dano em um único combo, e isso incomoda, apesar de ser algo recorrente na franquia. O que incomoda de verdade é o fato de ser possível aplicar muito dano com certa facilidade, dependendo do personagem.

    Pelo menos há diversas possibilidades de quebrar ou dificultar as ofensivas e pressões do oponente. Estas mecânicas são simples, mas possibilitam estratégias muito profundas. Vamos a elas.

    Burst é aquela barra que fica logo abaixo do seu life. Ela já começa cheia e, após ser usada, demora um pouco até encher novamente. Essa barra, quando cheia,  permite que você afaste o oponente enquanto está apanhando. É como se fosse um Combo Breaker do Killer Instinct. Você também pode usar o Burst em situação neutra, e caso acerte o oponente com ele, sua barra de Tension ficará no máximo (o que é muito útil para utilizar as mecânicas a seguir). Porém, existe a possibilidade de usar o Burst em momento errado, deixando-o vulnerável para receber uma punição severa do oponente, então tome bastante cuidado.

    Tension é a “barra de Super” do jogo. Ela é dividida em duas metades. Utilizando uma metade (e em alguns casos, serão necessárias às duas), você pode usar o Overdrive, que é o Super de GGST. Overdrive geralmente é um golpe especial que aplica boa quantidade de dano, sendo possível utilizar de forma isolada ou para finalizar combos. Em alguns casos, é possível continuar o combo após o Overdrive, o que fará muitos jogadores chorarem sangue.

    Ainda falando da barra de Tension, basta uma metade para utilizar a mecânica mais interessante do jogo: o Roman Cancel (RC). Seria possível escrever um post inteiro só para dissecar essa mecânica, mas não é o objetivo deste review. Vou apenas apresentar de maneira superficial para você ter uma ideia do que pode fazer com ela.

    O mesmo comando te permite executar 4 RC diferentes. “Nossa, deve ser complicado”. Não é. E quando você jogar, perceberá que é bem intuitivo, ainda mais que cada variação tem uma cor diferente. Dependendo do momento/situação em que você utilizar o comando, seu RC poderá estender um combo, interromper a ofensiva do adversário, possibilitar novas situações de combos ou simplesmente evitar punição após errar, ou aplicar um golpe inseguro. Por exemplo, executando o comando logo após defender um golpe, você quebrará a ofensiva do oponente, e o RC sinalizará a cor amarela. Felizmente, 0 jogo possui um tutorial bem completo, mas os textos estão em inglês.

    O bom uso do RC  traz inúmeras possibilidades, e repito, seria necessário um post inteiro para falar com detalhes sobre essa mecânica. Lembrando que o RC é antigo na franquia, anterior ao próprio Focus Attack Dash Cancel (FADC) do Street Fighter IV.

    Há uma boa quantidade de conteúdo offline, e curiosamente, o Story Mode é 100% vídeo, ou seja, você apenas assistirá a um anime com visual incrível. No momento que escrevo este review ainda não assisti ao Story Mode pois me recomendaram conhecer bem as histórias dos jogos anteriores para entender bem a história de GGST. E pelo pouco que pude conhecer da história da franquia, é muito interessante.

    Uma das características da franquia é a trilha sonora calcada no rock e heavy metal, sendo estes os gêneros dominantes nas músicas. Em GGST, além das músicas próprias, também é possível liberar trilhas dos jogos anteriores, sendo um prato cheio para os fãs. Interessante perceber que muitas músicas possuem vocal com letras referentes aos personagens e histórias da série. Além disso, o nome de vários personagens e golpes fazem referência ao mundo do rock/metal. Só para citar alguns: o nome real do protagonista Sol Badguy é Frederick, sendo que Bad Guy era um apelido de Freddie Mercury (ex-vocalista do Queen); Ky Kiske se refere a Kai Hansen (Gamma Ray, ex-Helloween) e Michael Kiske (ex-Helloween); um dos Overdrives de Ky chama-se Ride the Lightning, referente ao álbum homônimo do Metallica; Slayer e Testament são personagens com nomes de famosas bandas de trash metal (eles não estão em GGST… ainda); Axl Low é referência direta a Axl Rose; e por aí vai.

    Voltando ao online, vale repetir que o netcode tem se mostrado bem sólido e quase isento de lags. É possível escolher servidores de várias partes do mundo, mas nem sempre é possível jogar partidas sem lag. A melhor opção é usar o servidor da América do Sul, que apesar de estar um tanto vazio, ainda é possível encontrar vários oponentes e jogar com ping baixíssimo. O saguão de batalha tem uma interface 2D em pixel art, muito simpática, mas não agradou uma boa parcela dos jogadores.

    Até o momento, GGST conta com 18personagens, sendo 3 DLC. Outros 2 lutadores serão lançados via DLC nesta temporada (previsão é 2022), seguindo o modelo de jogos recentes, tais como Street Fighter V, Mortal Kombat 11 e Tekken 7. A maioria dos personagens são velhos conhecidos, como o ninja Chipp, o médico bizarro Faust e a amada/odiada May. Porém, temos alguns novatos, tais como a brasileira Giovanna e o samurai lorde-senhor-do-dano-absurdo Nagoriyuki. Há opção de vozes em inglês e japonês, ambas com boa qualidade. Recomendo fortemente entrar no site oficial e olhar cada personagem, inclusive os mini-tutoriais disponíveis para conhecer melhor a jogabilidade e estilo deles.

    No lançamento, GGST estava com uma média de 30 mil jogadores simultâneos no PC, algo impressionante para um jogo de luta. É natural que esse número cairia ao longo das semanas, o que efetivamente ocorreu, mantendo uma média de  2 mil, quantidade ainda relevante. Se a Arc System não melhorar as eventuais instabilidades do servidor e lapidar um pouco mais o balanceamento de alguns personagens, é provável que a quantidade de jogares continue caindo. Apesar destes defeitos, GGST é um baita jogo de luta que recomendo bastante. Afinal, porrada + anime + rock é uma fórmula difícil de dar errado. Disponível para PC (Steam), PS4 e PS5, com crossplay entre os consoles da Sony. É possível que no futuro haja crossplay entre consoles e PC.

  • Crítica | Brinquedo Assassino 2

    Crítica | Brinquedo Assassino 2

    Após o sucesso de Brinquedo Assassino,  o roteirista e criador do personagem Chucky, Don Mancini, ao lado do produtor e criador do boneco David Kirschner decidiram pelo óbvio: tornar o personagem o centro de uma franquia. Foi nesse contexto, em 1990, surgia Brinquedo Assassino 2, com uma trama mirabolante e engraçada, onde a companhia Play Pals Toys tentava provar que o boneco Good Guy era inofensivo, e para isso, decidiram remontar o brinquedo que recebeu a alma do estrangulador de Lakeshore, o famoso Charles Lee Ray.

    A mitologia em volta do boneco demoníaco ainda não seria flexibilizada (ou pervertida, como diriam os mais puristas) como ocorreu nos outros filmes, no entanto, não dá para levar a sério a desculpa de que um raio fez ressuscitar o psicopata — ao estilo Jason Vorhess. Mesmo com esse pontapé estranho, há bons momentos na trama.

    A maior riqueza do filme certamente está na evolução das personagens, em especial Andy Barclay (Alex Vincent). Tratado como um “órfão” traumatizado, já que sua mãe está internada por dizer que um brinquedo tentou matar sua família. Nada mais justo. O rapaz ainda consegue o feito nada desprezível de ser adotado por uma família, embora essa não seja a mais funcional e perfeita possível.

    John Lafia co-escreveu o primeiro filme com Mancini e dirige essa produção. Seu currículo anterior não era tão vasto, com destaque para as séries televisivas A Hora do Pesadelo: O Terror de Freddy KruegerBabylon 5, mas seu produto mais famosos é o “clássico” das tardes de Cinema Em Casa no SBT, Max: Fidelidade Assassina, onde um cachorro é geneticamente alterado e passa a se vingar dos homens que o maltratavam no canil. Aqui na parte dois da cinessérie de Chucky, Lafia conduz uma produção sanguinária cheia de mortes criativas, com coincidências bizarras como um caminhão de Good Guys fechando o carro da nova família de Andy e, claro, com a presença de um boneco chamado Tommy na casa dessa família. É como se o destino cercasse o garoto, impedindo-o de seguir em frente.

    Esse é possivelmente o único bom filme entre as continuações. Apesar de algumas produções ligadas a mistura de gêneros Terrir (terror com comédia) serem bastante elogiadas, esse é sem dúvida o produto que gera mais unidade entre os fãs de terror a respeito da qualidade, mesmo que sua premissa seja baseada numa ressurreição bastante esdrúxula.

    Chucky está bastante engraçado, com ótimas sacadas. Claramente, Brad Dourif se divertiu bastante, além de se mostrar um grande ator de voz. Kirschner conseguiu evoluir bem os mecatrônicos utilizados, agora o assassino tem mais expressões, parece menos uma criatura de stop motion e mais algo “real”.  Ele é um autêntico monstro de filme de terror, criativo, engenhoso e violento.

    Se Brinquedo Assassino 2 perde em efeito surpresa, pois fica óbvio que o brinquedo matará (e muito) já no início do filme, se ganha no sentimental. Há uma sequência que é bastante marcante. Andy se assusta ao perceber que em seu quarto há um boneco Bonzinho e, obviamente, não quer ele por perto. Com o tempo, ele cede ao receio de ser rejeitado, buscando não voltar ao orfanato, e se aproxima do boneco, abrindo assim brecha para que seu perseguidor se infiltre sem gerar suspeitas no menino.

    O longa expande o universo da franquia, com a personagem de Kyle (Christie Elise), que faz às vezes de moça adolescente rebelde, mas que nutre carinho pelo recém-chegado. O trauma une Andy e Kyle, e esse vínculo foi espertamente retomado nas produções A Maldição de Chucky e no seriado Chucky.

    A remasterização executada para lançamento do filme em mídia física é ótima, ajuda a apontar as evoluções da produção, sem falar que reforçam o caráter gore da produção. A automutilação e a caça implacável do assassino ao garoto é uma representação da completa falta de lógica da mente de Charles, mostrando que o sujeito não aceita morrer, nem permanecer morto e ainda tenta arrastar um menino inocente para esse estranho caminho. Andy e Chucky aparentemente teriam suas vidas para sempre atreladas, mas jamais com consequências e abordagem tão graves quanto nesta obra.

  • Crítica | Raya e o Último Dragão

    Crítica | Raya e o Último Dragão

    Raya e o Último Dragão

    Animação em longa-metragem dos estúdios Disney, Raya e o Último Dragão usa como pano de fundo as múltiplas lendas sobre as criaturas draconianas, entre as presentes no panteão chinês e crenças ocidentais. A trama apresenta o lendário reino de Kumandra, uma terra antes composta de bravos guerreiros que se dividiu após uma briga irracional e gananciosa entre os homens, não restando então qualquer esperança de mudança desse triste cenário, exceção feita a personagem que dá título a obra.

    Há um vácuo de poder e moralidade em Kumandra, já que no evento anteriormente citado boa parte dos cidadãos mais valorosos foram transformados em pedra após o tal embate. Entre os vitimados estão parentes da pequena e destemida Raya.

    A história do filme dá conta da tentativa dela de provar sua coragem e valor reacendendo e reinventado algumas histórias que antes eram encaradas como contos infantis para enfim se tornar realidade. Nesse contexto, a jovem e um grupo de estranhos, porém carismáticos personagens, vão atrás da lenda de um dragão que estaria ainda ao alcance da humanidade.

    A animação é bastante bonita tecnicamente, na introdução já se percebe um mundo colorido, com personalidade e mitologia próprias, além de um claro discurso de  valorização da natureza, mostrando a deterioração desse mundo que se tornou um lugar árido, sem vida e distante do colorido passado glorioso exibido nos primeiros momentos da animação.

    No passado deste universo, a civilização era versada quase na totalidade em artes marciais, e isso é bem mostrado nas coreografias de luta. Há intenção de referenciar os filmes do gênero Wuxia (filmes de época que misturam fantasia com artes marciais), além da clara inspiração em filmes de luta pouco referenciados em animações ocidentais, como Merantau e Ong Bak. Em alguns pontos ele lembra um pouco os filmes antigos de Jet Li, como Era Uma Vez na China, e as produções dirigidas por Jackie Chan, sobretudo 1911 — A Revolução.

    O filme tem condução dupla de Don Hall, do elogiado Operação Big Hero e Carlos Lopez Estrada, do live action dramático Ponto Cego. A mistura de estilos tão díspares ajuda a fortificar uma abordagem diferenciada. Apesar disso, Raya e o Último Dragão tem questões pontuais, como um desfecho apressado, como a recente animação elogiada (e superestimada), Soul, embora a obra de Hall e Estrada não seja tão mal resolvida quanto o filme da Pixar. Fato é que mesmo não sendo perfeita, a trajetória da heroína é simbólica e reflexiva, e que não parecem  forçadas ou sem sentido diante das questões mitológicas reais homenageadas aqui.

  • Crítica | Casa Gucci

    Crítica | Casa Gucci

    Crítica Casa Gucci

    Casa Gucci é o filme que traz Ridley Scott de volta as cinebiografias. A obra se baseia no livro Casa Gucci: Uma história de glamour, ganância, loucura e morte de Sara Gay Forden e traz a controversa história do casal formado por Patrizia Reggiani e Maurizio Gucci. A trama se passa ao longo das décadas, e tem por base três períodos distintos, exibindo uma história de amor, ressentimento e ganância.

    O Último Duelo, filme anterior de Scott bastante elogiado, portanto, havia uma grande expectativa em relação à produção de seu novo longa, seja por conta dos bastidores de um império da moda, como pelo elenco, desde o casal de protagonistas composto por Lady Gaga, que vinha de uma atuação elogiadíssima em Nasce Uma Estrela, e o sempre elogiado Adam Driver, como pelos coadjuvantes que incluía Al Pacino, Jeremy Irons, Jared Leto (em outra participação hilária e melancólica), Salma Hayek e Jack Huston.

    Na primeira hora do filme acompanhamos o relacionamento do casal, totalmente baseado no amor, que aparenta ser verdadeiro e completamente puro. Chega a ser estranho, pois até a parcela da família Gucci que compreende Maurizio parece de fato ter uma relação próxima. Em paralelo a isso o mercado da moda é mostrado como algo bastante semelhante à máfia. Com o desenrolar dos anos, acompanhamos uma série de reviravoltas e traições.

    Até se aproximar da metade, o filme é acertado, ainda que existam conveniências de roteiro. Os personagens são erráticos, repletos de tridimensionalidade e carisma. Infelizmente a metade final é bastante irregular. Nos anos finais o que mantém o espectador atento é a curiosidade de como a história se encerrará. Em alguns pontos, o filme parece uma minissérie biográfica com orçamento vultuoso.

    Os momentos finais comprometem bastante os bons momentos do filme. O cineasta repete boa parte dos erros de Todo o Dinheiro do Mundo, embora Casa Gucci tenha um roteiro mais interessante. No final das contas, o longa servirá para tentar angariar uma ou outra indicação ao Oscar e, possivelmente, uma estatueta ou outra para categorias técnicas como maquiagem, figurino e melhor atriz.

  • Melhores Filmes de Futebol

    Melhores Filmes de Futebol

    Futebol é o esporte mais popular do mundo, movimenta paixões, emoções, dinheiro, tradições, competitividade etc. No caso do Brasil, é uma obsessão tão intensa que se torna praticamente uma religião nacional. Sendo assim, é normal que a filmografia brasileira tenha se debruçado sobre o esporte bretão, e contrariando a máxima de que “não há bons filmes sobre futebol“, separamos uma lista com alguns bons exemplares entre produções nacionais e estrangeiras.

    Heleno (José Henrique Fonseca, 2011)

    Este é um drama que conta a história da lenda botafoguense Heleno de Freitas. Dirigido por José Henrique Fonseca, o longa narra a trajetória dramática sobre o jogador e o homem Heleno. Fonseca se baseou no livro homônimo do jornalista Marcos Eduardo Neves, e foca bastante em sua delicada biografia fora do campo, desse modo, o futebol é subalterno às tristezas e dissabores do protagonista. O desempenho de Rodrigo Santoro no papel principal é irrepreensível.

    O Futebol  (Sergio Oskman, 2014)

    O filme de Oksman apela para o emocional, a história mostra o esporte como símbolo da tentativa de pai e filho em voltar a ter laços sentimentais fortes. Sergio busca reativas o sentimento de familiaridade com seu pai, Simão, em meio a Copa do Mundo que o Brasil sediou em 2014, e para isso, decide voltar a sua cidade natal para acompanhar o torneio com seu parente, a fim de relembras os momentos mais felizes do passado de ambos. Essa tentativa resulta em um fracasso, e o modo que Oskman trata isso na história é forte e singelo. O uso do esporte como centro gravitacional desse universo é simbólico, pois, enquanto ele não é super importante para os personagens, serve de pretexto para essa empreitada que não dá certo, acaba conversando bem com a necessidade humana se conectar com os próprios sentimentos e com a necessidade que o homem adulto tem em se consertar com os que lhe são caros, ou quem já foi. Filme bonito  e emocionante na medida.

    Boleiros: Era Uma vez o Futebol (Ugo Giorgetti, 1998)

    A cinessérie Boleiros é possivelmente a exceção à regra no que toca o lugar-comum de que não existem bons filmes sobre futebol no Brasil. Ugo Giorgetti dirigiu duas versões, uma de 1998 e outra em 2006, mas o primeiro é sem dúvida alguma o mais inspirado entre eles. A história se passa em dois cenários básicos: um bar em São Paulo onde jogadores aposentados e veteranos conversam animadamente sobre suas carreiras e frustrações, e claro, os gramados. O elenco conta com estrelas como Lima Duarte, Elias Andreato, Cássio Gabus Mendes, Otávio Augusto, Rogério Cardoso e Flávio Migliaccio, e o formato de conversa de bar favorece o clima de resenha e o brilho de suas histórias, muitas delas inspiradas em fatos.

    O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006)

    Dirigido por Cao Hamburguer, que já tinha experiência com produtos ligados ao público infantil como o seriado Castelo Rá-Tim-Bum, o filme trata da história de Mauro, um menino fanático por futebol que herdou esse gosto do seu pai. O menino se muda para a casa do avô, um judeu ortodoxo vivido por Paulo Autran, bem diferente de seus pais. As férias que os pais de Mauro tiram são, na verdade, fruto da perseguição política dos militares. O esporte, em especial a Copa de 1970, entra como alvo dos sonhos do pai, do pequeno Mauro e até mesmo dos militantes contrários ao regime militar, que tentam em vão torcer para a Tchecoslováquia, sem conseguir esconder o fascínio pelo time de Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho. O desempenho de Michel Joelsas é ótimo, e Hamburguer consegue equilibrar bem o cenário caótico de perseguição política com o olhar mágico de uma criança sobre o futebol e sua relação com os pais desaparecidos.

    O Roubo da Taça (Caito Ortiz, 2016)

    Essa é uma das mais estranhas e bizarras histórias do país: o que ocorreu com a taça Jules Rimet do mundial de 1970? Há algumas versões dessa história no cinema nacional, mas a de Caito Ortiz lançada em 2016 se destaca pelo tom semelhante ao das chanchadas, misturando o humor estridente das novelas, com o nonsense da situação que envolve um grupo de ladrões maltrapilhos responsáveis pelo roubo do artefato mais importante do futebol da época. Thais Araújo e Danilo Grangheia estão muito bem, são engraçados e carismáticos, mas obviamente a estrela do filme é Paulo Tiefenthaler. O filme serve entre outras coisas para satirizar a política nacional e as instituições responsáveis pelo futebol no Brasil.

    Maldito Futebol Clube (Tom Hooper, 2009)

    Michael Sheen vive o lendário, supersticioso e vaidoso Brian Clough, treinador inglês que havia feito carreira nos pequenos times do Reino Unido. O pontapé inicial se dá com ele chegando ao clube mais forte do campeonato, Leeds United, após a saída de Don Reevie. O maior prodígio do filme é mostrar como funcionava os bastidores do esporte no seu país-fundador. Quem está acostumado a ver Sheen em sagas como Crepúsculo e Underworld talvez se surpreenda com o seu desempenho. Seu personagem é espirituoso, determinado, cheio de energia e insegurança, e a ode ao futebol se dá de maneira pragmática, mostrando o esporte como uma fogueira de vaidades.

    Febre de Bola (Dani M. Evans, 1997)

    Adaptação do livro homônimo de Nick Hornby, Febre de Bola é uma comédia romântica protagonizada por Colin Firth, um professor de inglês lidando com uma nova paixão, e paralelo a isso, acompanhamos sua obsessão pelo Arsenal, time inglês que passava por uma fase azarada e sem títulos. Por mais que o livro seja muito mais bem resolvido que o longa, há bons momentos nessa versão, especialmente quando mostra as diferentes etapas da vida do protagonista, grafando muitíssimo bem as manias e superstições do torcedor que frequenta estádios, mostrando que os hábitos dos ingleses não são tão diferentes dos nossos. O momento mais inspirado do filme se dá em seu desfecho ao retratar a festa da torcida após o título.

    Penalidade Máxima (Barry Skolnick, 2001)

    Penalidade Máxima é protagonizado por Vinnie Jones, expoente do cinema brucutu britânico e ex-zagueiro da seleção galesa de futebol. Esta é outra versão de Golpe Baixo, e em comum com o original, mostra atletas presidiários liderados por um jogador profissional mal falado, substituindo o futebol americano pelo futebol. O elenco conta com figuras carimbadas dos filmes de Guy Ritchie, repleto de humor físico e personagens carismáticos. As cenas de futebol são ótimas, conduzidas por gente que parece entender do esporte, mas o ponto positivo são os carrinhos e jogadas desleais, resultando na demonstração vívida do que é o futebol de rua.

    Um Time Show de Bola (Juan José Campanella, 2013)

    Esta animação é uma produção hispano-argentina, situada em um pequeno vilarejo argentino que remete a várias pequenas cidades do mundo. A qualidade da animação é grandiosa, os efeitos em computação gráfica e a textura dos personagens dão um tom quase tão mágico quanto o momento que os jogadores ganham vida. A obra de Juan José Campanella registra uma bela história sobre memória e pertencimento, além de ser uma ode ao futebol amador e as diversas modalidades oriundas dele, desde jogos de simulação mais física como totó e futebol de botão, até os mais modernos e interativos como jogos de videogame.

    El Chanfle (Enrique Segoviano, 1979)

    El Chanfle é produzido e estrelado por Roberto Gomez Bolaños, que vive um roupeiro do América do México, um dos clubes mais populares do país. Sua trajetória é de um homem atrapalhado, que quebra tudo o que toca, mas tem um bom coração e carrega sonhos simples. O elenco inclui Ramon Valdez, Florinda Meza, Maria Antonieta de Las Nieves e outros que compunham o grupo de personagens de Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin (que inclusive tem uma breve aparição nesta longa) e demais histórias do Chespirito. O episódio que Chaves fala que seria melhor ver o filme do Pelé era, na verdade, uma propaganda deste filme. As cenas de futebol não são um primor, servem mais para que Carlos Vilagrán e seu Valentino possam brilhar como um jogador talentoso, porém mentiroso. No final, o que se percebe é uma obra que louva bastante o amor do povo mexicano pelo futebol.

    Uma Aventura do Zico (Antônio Carlos da Fontoura, 1998)

    Um time é formado por onze jogadores em campo, e o décimo primeiro filme da lista não é exatamente bom, mas é quase isso… Uma Aventura do Zico tem uma premissa insana, mostra o ex-jogador do Flamengo abrindo a chance de treinar crianças, e uma delas, frustrada por não ser escolhida, pede ao pai rico para fazer uma cópia exata do Galinho de Quintino, que ganha o “maravilhoso” nome de Zicópia. O filme mistura ficção científica, estética de televisão e até discussões bizarras sobre homofobia e machismo no esporte, por conta de uma menina que finge ser um garoto para treinar com o camisa 10 do Flamengo. Assistir os Coimbra enquanto família é assustador, pois nenhum deles parece ter qualquer intimidade com a câmera, e nem mesmo atores famosos como Eri JohnsonJonas Bloch salvam a dramaturgia. O filme vale pela curiosidade e pelo amor ao bizarro.

  • Crítica | Eternos

    Crítica | Eternos

    Crítica Eternos

    Um grande receio se estabeleceu sobre o futuro da Marvel nos cinemas após Vingadores: Ultimato e da terceira fase de filmes, os rumos das histórias não pareciam (ao menos para o público) ter um norte tão certo e em meio a toda essa confusão, se produzia Eternos, filme de equipe, formada por seres poderosíssimos, que não envelhecem dirigido pela oscarizada Chloé Zhao (Nomadland). A história é simples e adapta para a grande tela os personagens de Jack Kirby  e havia bastante receio por parte dos fãs antigos por mexer com esse cenário estilo escapismo cósmico.

    A história engloba variações no tempo, com momentos antes da criação do planeta Terra, onde os seres supremos chamados Celestiais criaram duas categorias de criaturas poderosíssimas, os Eternos, homens e mulheres de raças diversas super poderosos, e os Deviantes, criaturas fortes, destruidoras e irracionais. O antagonismo entre as partes serve como a desculpa perfeita para que esses seres tão fortes não tenham interferido em questões como a invasão  chitauri em Os Vingadores, as ações do titã louco em Vingadores: Guerra Infinita ou demais eventos cósmicos, pois o celestial que os comandava, Arishem não permitia isso dada sua rigidez.

    Esse possivelmente é o mais diferente dos filmes Marvel desde que James Gunn fez Guardiões das Galáxias, embora no caso dos Eternos haja mais fama em torno do nome de grupo, até por conta de serem uma criação tão elogiada de Kirby. As semelhanças obviamente param no fato de esses não serem personagens do primeiro escalão da editora e de ser uma obra sobre um time, e não um personagem específico, embora Sersi (Gemma Chan) seja claramente uma protagonista.

    Eternos foi bastante criticado antes mesmo da estreia. Uma das maiores reclamações era de que o filme soava genérico, critica que certamente não cabe. Se Homem de Ferro, Doutor Estranho e Homem-Formiga tem o mesmo “esqueleto” de roteiro, não se pode dizer que a origem dos poderosos protagonistas foi tratada da mesma forma. Há espaço para lidar com cada um dos 10 personagens, e mesmo que o foco narrativo seja especialmente em três deles — Sersi, Icaris e Duende. Tanto Gilgamesh, Druig, Makkari, Phastos, Kingo, Ajak e Thena tem ao menos um momento de brilho e protagonismo, pontuado claro pelo bom desempenho de seu elenco.

    As lutas são bem legais, e Zhao ainda permite que boa parte do humor seja referencial aos gibis, afinal, essa é uma adaptação de HQ. Muitos fãs puristas reclamaram por haver menção direta a personagens do panteão da DC. Essa é uma questão tão boba que surpreende que tenha causado tanta espécie em 2021.

    Se a reclamação geral fosse a respeito do arco dramático de Duende, que apresenta um complexo de inferioridade e dificuldade de auto aceitação por ter o corpo de uma criança, até faria sentido criticar. Visto que ela viveu mais de 7 mil anos, incluindo aí eras onde não havia tabu em relações entre homens adultos e crianças, considerando que poucos séculos atrás um homem já grande e senhor de si poderia desposar uma moça de 12, 13 anos, essa não deveria ser uma questão, pois é um tabu de época, e isso se agrava dado que seu poder natural é iludir e mudar de forma. Se a ideia era ser fiel ao conceito pensado por Kirby, não seria difícil dribla-lo, tampouco inédito visto que Thanos nos gibis era um deviante e para justificar a não presença dos personagens nos últimos filmes da  terceira fase, ele claramente não é desta raça.

    Apesar de não ser profundo, o roteiro discute questões pontuais, como obediência cega as ordens superiores, que pode facilmente ser vista como uma crítica a miopia de quem segue rígidos dogmas religiosos. A participação de Salma Hayek nesse ponto serve bem ao propósito de  dar dimensão e importância a essas questões. Outro bom exemplo de bom desenvolvimento são algumas relações não românticas, em especial entre Gilgamesh e Thena, cujo arco fala sobre tolerância, sobre condições de saúde extrema e dá pistas ao público de que algo estranho ocorre, além de dar a Angelina Jolie a oportunidade de apresentar seus  dotes dramáticos, além é claro de fazer um bom dueto com Ma Dong-seok.

    Um filme com tantas idas e vindas temporais poderia soar confuso, mas isto não ocorre. O problema de fato é  a batalha final, pois ela existe em uma confusão que faz pouco sentido, e em um combate onde todas as forças que antes eram aliadas, ficam se contendo, para haver um embate equilibrado. A  conclusão não faz muito sentido, soa forçada, com detalhes cuidadosamente pensados para deixar gancho para continuações, mesmo que seja pouco provável que ocorra um Eternos 2.

    Eternos acerta mais do que erra, e possivelmente será o farol e tendência para os novos filmes da Capitã Marvel, do Aranha e demais produtos, voltados para o Team Up como já foi com Viúva Negra e as séries WandaVision e Falcão e Soldado Invernal. O que poderia ser melhor é cuidado com o visual dos Deviantes, que poderiam ser menos parecidos com meras imitações de filmes de fantasia recentes, além da ainda intensa necessidade de plantar eventos para  o futuro dos filmes do estúdio, visto que tal qual a revista de Kirby, esta obra de Zhao se sustenta por si só.

  • Review | Meu Amigo Bussunda

    Review | Meu Amigo Bussunda

    Meu Amigo Bussunda é uma série de quatro capítulos idealizados e dirigido por Cláudio Manoel, que ainda divide a parceria na direção com Micael Langer, e no último dos quatro capítulos, por Júlia Besserman, filha do humorista conhecido como Bussunda. O especial possui uma atmosfera alegre, criativa, super colorida e sacana, como era o humor e a identidade civil de Cláudio Besserman, o Bussunda, e tenta se equilibrar entre a memória afetiva, as polêmicas da carreira e a fatalidade de sua morte precoce com 43 anos.

    Manoel divide seu estudo em quatro partes, Fama de Famoso de 1962 a 1989Ih, ó o cara aí de 89-98, Fala sério 1998-06, dirigidos por ele e Langer, e claro, Meu Pai Bussunda, cujo tom é bem diferente graças a direção da filha Júlia. O início do filme brinca com os gostos da personagem-título, embalada por Rock and Roll, mostrando pessoas do passado do humorista. Cláudio Manoel diz ser colega de escola do gordinho, cabeludo e dentuço que se tornaria Bussunda, desde a época em que ele era magro e orelhudo, fato que o fez ser apelidado como Topo Gigio, uma personagem infantil dos anos 80 bastante popular.

    O seriado captura bem a alma brincalhona de Bussunda, e não ignora o passado de sua família, a formação política do humorista e a influência de intelectuais comunistas do Partidão (PCB) em seus pensamentos e na influência de seu caráter. Filhos de judeus, Bussunda era o filho “sem futuro”, o “temporão”, seus pais pensavam que ele passaria fome, tanto que pediram aos irmãos para cuidar dele, caso eles morressem. Manoel entrevista a família e consegue preciosidades, pérolas do passado e ajuda a montar o quebra cabeça do homem engraçado que fazia piada consigo mesmo desde cedo, fruto do fato de ser filho de uma psicanalista, o que influenciou obviamente em toda a percepção de mundo que tinha.

    A narração de Claudio é um pouco invasiva, em alguns momentos é até boba, séria e sisuda demais, especialmente para quem conhece ele e seus personagens. Um diretor tão especializado em documentário deveria se atentar mais para isso, já que dirigiu (ou co-dirigiu) Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei, Tá Rindo de Quê?, Rindo à Toa: Humor Sem Limites. Ainda assim, o conteúdo das conversas ajudam a desvendar quem era Bussunda, passando detalhadamente pela formação teatral e universitária.

    Há um bom detalhamento do ponto de vista político do personagem, das brincadeiras que ele fazia com a UNE na época  que estudava comunicação e na completa falta de ambição que tinha. É tratado como um Bon Vivant desleixado com a imagem, mas extremamente mordaz e inteligente. Claramente o documentarista tem receio em falar de política, não só por conta da polarização política atual, mas também pelo caráter meio “chapa branca” dos documentários da Globoplay. Se isso ocorre com produtos sobre políticos, imagina sobre uma celebridade dita “neutra”. Ao invés de tomar lado, prefere mostrar bastidores, sobre a união dos jornais Planeta Diário e Casseta Popular, nos ingressos destes na televisão e nos shows da noite carioca, além da luta para emplacar um projeto após trabalharem na redação da TV Pirata.

    Em determinado ponto a série passa a ser um documentário mais sobre o Casseta e Planeta e suas diversas fases. Isso seria perdoável caso ao menos se abordasse um pouco sobre o declínio do grupo pós-partida do companheiro finado. O episódio ao falar da morte em si é um acerto, é emotivo, traz muita coisa inédita, resgata sensações fortes. Já o restante, acaba soando repetitivo. É fato que a TV Pirata e o próprio Casseta tinham um lugar especial no humor da televisão aberta, e quebravam um estilo já consolidado, mas isso tudo já foi muito discutido, aparentemente Manoel quis se permitir valorizar seu legado, deixando de lado a intenção de homenagear o amigo e companheiro de longa data.

    Em Meu Pai Bussunda, Julia busca entender quem foi seu pai, como foi sua carreira, visto que quando ele se foi, ela tinha apenas doze anos, e não tinha tantas memórias e percepções de como era o humor dele e do resto da trupe. O tom aqui é completamente diferente, emocional e visualmente mais interessante. O conteúdo reflete sobre o tipo de humor que do personagem e não cai no pecado de ser condescendente. Há críticas a ele, mas também ao humor atual, com falas de vários humoristas envolvendo temas e visões díspares.

    Meu Amigo Bussunda tem dois tipos de abordagens diferentes, e isso faz com que o caráter dele não seja tão fácil de definir. Ainda assim, é um bom resgate de alguém que fez e faz  parte da história do humor, da comunicação e da televisão brasileira.

    https://www.youtube.com/watch?v=WScB05qBz7o

  • Crítica | Os Caça-Fantasmas 2

    Crítica | Os Caça-Fantasmas 2

    Depois do sucesso do primeiro filme, o mundo clamava por uma continuação de Os Caça-Fantasmas. Durante certo tempo, Dan Aykroyd e Harold Ramis, protagonistas e roteiristas do original, resistiram às pressões, principalmente da Columbia Pictures. É compreensível a relutância da dupla, pois o primeiro filme possui uma trama bem fechada e se sustentava sozinha, sem deixar espaço para sequências. Entretanto, em 1989, não só Aykroyd e Ramis voltaram, mas todo o elenco principal composto por Bill Murray, Sigourney Weaver e Ernie Hudson, além do diretor do Ivan Reitman. Entretanto, o resultado da reunião não foi dos melhores.

    O filme teve produção problemática desde o início, com roteiros sendo completamente reescritos devido a ideias consideradas não filmáveis. Além disso, havia problemas de agenda, pois os atores se consagraram ali e se tornaram figuras fáceis em produções nos anos subsequentes. Existiram conflitos criativos entre Ramis, Aykroyd e David Puttnam, então executivo da Columbia Pictures que odiava Bill Murray e pretendia fazer um Caça-Fantasmas 2 na marra. Enfim, o cenário não era nada positivo, mas a dupla de roteiristas finalmente conseguiu entregar um roteiro em 1988. A ideia era até interessante, explorar a força das emoções negativas, como elas agiriam junto ao sobrenatural e uma entidade que retiraria seus poderes dessa combinação, contudo a execução preguiçosa fez desse filme uma pálida imitação de seu antecessor.

    Ainda que tenha passado por revisões ao longo dos anos onde muitos tentam convencer que o filme não é tão ruim como pintam, principalmente se comparado ao original, o fato é que Os Caça-Fantasmas 2 realmente não é bom. Logicamente que existem alguns bons momentos, a maioria deles protagonizados por Bill Murray, mas Rick Moranis e Peter MacNicol se destacam positivamente. Dan Aykroyd e Harold Ramis se apresentam bem, assim como Sigourney Weaver, enquanto Ernie Hudson fica esquecido durante boa parte do filme, o que é um pecado imperdoável.

    O diretor Ivan Reitman até se mostra competente em algumas cenas de ação, principalmente no embate final com o vilão Vigo. Porém, mete os pés pelas mãos quando tenta fazer um humor mais voltado para toda a família, o que faz com que o sarcasmo presente no primeiro filme seja eliminado e ainda se embola ao trabalhar as alegorias e metáforas políticas inseridas no roteiro. Entretanto, acerta no trato que dá ao personagem de Murray, que apesar de não ter continuado seu relacionamento com Dana Barrett, papel de Sigourney Weaver, toma para si a tarefa de proteger o bebê Oscar mesmo ele não sendo seu filho biológico. A prova da maturidade do seu Peter Venkman vem quando ele deseja que ele fosse seu filho biológico e passa agir como alguém que pode ser um verdadeiro companheiro e também um pai. Já nas questões técnicas, os efeitos especiais são de primeira qualidade para a época, tanto os animatrônicos quanto os efeitos de computação gráfica.

    Enfim, este segundo Caça-Fantasmas tem um saldo geral mais negativo que positivo. Porém, ainda tem alguns momentos de charme que merecem ser conferidos e é possível que seu clima família consiga cativar novos espectadores, principalmente do público mais jovem.

  • Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica 8 Presidentes e 1 Juramento

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é um documentário em longa-metragem, conduzido pela veterana atriz Carla Camurati, conhecida por dirigir Carlota Joaquina: A Princesa do Brasil, filme marco zero da retomada do cinema nacional pós-queda da Ditadura Militar. O filme narra os eventos da recém-adquirida possibilidade de voto do povo brasileiro até Jair Bolsonaro.

    O ponto inicial do longa é a campanha das Diretas Já, seguido da posse de José Sarney após a morte de Tancredo. É curioso como não há narração, a produção optou pelas imagens contando a história, associando-as à recortes de jornais impressos de época e anúncios de rádio e televisão.

    O filme possui algumas cenas bastante raras e algumas curiosas. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso são mostrados índios protestando. Esse tom pode fazer o espectador acreditar que o tom do governo seria agressivo, mas não é, na verdade, é bastante respeitoso, ao contrário do que se vê ao falar de seu antecessor, Fernando Collor de Mello, flagrado aqui como um político que não conseguia tomar as rédeas da economia do Brasil.

    O filme não se furta em mostrar que o embrião do Bolsa Família foi originado por outros programas de distribuição de renda da época de FHC, assim como explana a mudança de postura que Luiz Inácio Lula da Silva fez para se tornar um candidato viável politicamente. O longa passa pelos escândalos do Mensalão e a participação do ex-deputado Roberto Jefferson, inclusive destacando momentos pitorescos, como a chegada dele com um olho roxo no Congresso. Não há concessões.

    Curiosamente, as partes que mostram a história do Partido dos Trabalhadores na presidência parecem mais breves, o que é até compreensível, visto que há tantos trabalhos em documentário sobre esses processos, como Entreatos, O Processo, Alvorada e tantos outros produtos que abordaram essa época. Há um belo acerto ao mostrar como as manifestações de 2013 influenciaram a queda de popularidade das figuras de Dilma Rousseff e Lula, assim como também é correta a fala de que tais atos não eram compostos exclusivamente pela direita. Ainda assim se fala bastante do crescimento econômico do país e dos escândalos de corrupção.

    A parte mais correta do filme é quando se destaca como a evolução da internet influenciou a democracia no continente americano e no Brasil. Redes sociais e memes são sabiamente apontados como o fiel da balança para os últimos resultados da política nacional, seja no golpe aplicado em Dilma, como também na popularização de Bolsonaro.

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é uma boa forma de introduzir uma pessoa que nada saiba sobre como o caótico cenário sócio político do país chegou a esse 2021, mas ainda assim carece de um ritmo aceitável, suas mais de duas horas são extensas, e isso faz o documentário parecer um especial de TV de final de ano, trocando os últimos 365 dias para todos os anos pós-Constituição.

  • VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    VortCast 104 | Diários de Quarentena XXII

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e Nicholas “Aoshi” Prade (@nicprade) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” e se reúnem para comentar sobre Round 6, God of War, Mark Millar e muito mais.

    Duração: 95 min.
    Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Noite Passada em Soho

    Crítica | Noite Passada em Soho

    Noite Passada em Soho é um thriller emocionante e emocional do diretor de Em Ritmo de Fuga. Seu começo é singelo, com a jovem Eloise/Ellie (Thomasin McKenzie) recebendo a notícia de que deixaria sua pequena cidade onde mora com a avó para sua mudança para Londres, estudar moda como sempre quis e sonhou.

    O filme de Edgar Wright trata de traumas passados, problemas familiares graves e questões psíquicas. A protagonista é uma moça doce que carrega consigo a dor de ter perdido sua mãe de forma bastante trágica e traumática, vítima de suicídio praticado exatamente na capital da Inglaterra, fato que faz com que sua família se preocupe com a aspirante a estilista.

    A personalidade e psique da menina são influenciadas pela falta dessa figura materna, e quando ela chega à metrópole tem atritos com outras estudantes fashionistas. Isso a faz querer se afastar, e é nessa ínterim que ela resolve se mudar dos dormitórios da faculdade, para um lugarzinho ermo, e lá ela passa a ver seus atos como os de Sandy (Anya Taylor-Joy), uma moça que sonhava em ser cantora dos anos 1960, justamente a época que Ellie mais amava.

    Essas viagens no tempo podem fazer com que o espectador pense que esse é um filme irmão de Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, mas o resgate ao passado é um despiste. A história de Wright e Krysty Wilson-Cairns (de 1917 e Penny Dreadful) é bastante trágica, repleta de violência e abusos. Esses aspectos são desenrolados gradualmente, e o público é convidado a mergulhar em um abismo de tristeza e desesperança, fato que certamente pode causar desconforto em um público mais sensível.

    Um fator curioso é como Wright insere Londres como uma personagem. A cidade é o lar de tragédias cotidianas e corriqueiras, um lugar onde mortes literais (ou não) ocorrem o tempo inteiro. De certa forma, toda grande cidade é assim, e essa campanha de apagamento da romantização de lugares turísticos (bem como de épocas) é alcançada à perfeição, por mais que o ponto de partida seja exatamente nesta obra.

    Que Taylor-Joy é uma excelente atriz não é novidade. A Bruxa mesmo demonstra isso, mas Wright dá a ela oportunidade de mostrar uma face até então desconhecida. Seu trabalho engloba o de uma pin-up praticamente irrepreensível. O arquétipo de moça em perigo também é aludido e perfeitamente encaixado, sua personagem tal qual é Ellie, tem complexidade e apesar dos seus sonhos artísticos em soltar a voz, a moça passa boa parte de sua participação em silêncio, se comunicando por sussurros e gritos contidos que passam a ser cada vez mais frequentes à medida que vê seus sonhos ruírem.

    Wright é afiado na direção, condução e roteiro. Não tem receio em colocar o dedo na ferida, e ainda denuncia questões controversas no cenário artístico mainstream, e faz isso sem concessões, subestimar o público ou qualquer olhar moralista para os atos condenáveis das suas personagens.

    O final do filme poderia soar piegas e clichê, mas ao contrário, ratifica as coincidências de sentido e sentimento entre Ellie e Sandy. McKenzie e Taylor-Joy formam um dueto incrível, quase simbiótico e essa sem dúvida é a maior riqueza de Noite Passada em Soho. O longo usa poucos atalhos narrativos, não apela para conveniências de roteiro e acerta nos pequenos passos ousados que propõe, além disso, também possui toda a verve típica da filmografia de seu cineasta que parece amadurecer cada vez que se lança em novos projetos.

  • Crítica | Fuga de Los Angeles

    Crítica | Fuga de Los Angeles

    Fuga de Los Angeles é uma continuação que despreza quase tudo que funcionou em seu primeiro filme, Fuga de Nova York. A crítica social e política, o cuidado com o visual e a cretinice meticulosamente pensada dá lugar a um longa de ação super divertido que traz de volta o personagem Snake Plissken (Kurt Russell), mas sem o mesmo charme e compromisso com subtextos mais inteligentes.

    O filme chegou aos cinemas em 1996, um ano antes do futuro distópico que era o ponto de partida do filme anterior. A trama se passa em 2013, e retrata outra catástrofe ambiental, dessa vez ocorrida em 1998. O protagonista, bem mais velho, reaparece para reviver boa parte dos plots anteriores, no entanto, Nova York é substituída por Los Angeles.

    O filme de 1981 era debochado, mas era fácil perceber que ele tinha compromisso de seriedade, aqui não existe esse apego. Ao mesmo passo, os efeitos práticos que ajudaram a deixar o filme original charmoso dá lugar a computação gráfica ainda nada aprimorada, artificial e com figuras em 3D que claramente não parecem ter sido finalizadas. O roteiro dessa vez é assinado por Carpenter, Russell e pela produtora Debrah Hill. Quase todos os encontros e desencontros são mal encaixados, lembrando uma brincadeira de bonecos comandada por uma criança pouco criativa.

    Sobram frases de efeito, trilha de rock genérica e a busca por uma imagem transgressora. Ao menos, o elenco de apoio se esforça para deixar as bizarrices da história menos constrangedores. Participam Bruce Campbell, Michelle Forbes, Steve Buscemi, Pam Grier e Peter Fonda. Esses coadjuvantes não são bem explorados e  cada um tenta se provar mais esperto e astuto que o outro, basicamente para mostrar Snake como alguém inepto e irascível, ou seja, pouco apto para o trabalho. Além disso, o papel de Grier envelhece mal, visto que é alvo de piadas transfóbicas, questões essas que em 1996 não eram tão aludidas ou combatidas quanto atualmente.

    O preço para ver Snake de volta é alto, Fuga de Los Angeles tem uma trama política complicada, se no original há crítica severa ao imperialismo dos Estados Unidos, aqui se desdenha de movimentos revolucionários de países latinos, e de maneira pouco inteligente, rasa e às vezes sem sentido. Ao menos ele dá fim as possibilidades de continuações, com uma escolha inteligente para findar a aventura e esse universo todo, preservando assim público e os fãs da franquia de mais obras que não valorizam o original.